Por que estudar a Religião? — VII
Na edição anterior, tratou-se da necessidade que tem o homem de uma religião. Nesta o autor* mostra que se é infeliz sem religião, e que ela é vital para a sociedade.
Indubitavelmente Deus não necessita de nosso culto. Esta palavra necessidade só pode ser empregada em relação às criaturas, jamais em relação a Deus. O Ser necessário, sendo necessariamente tudo o que é e tudo o que pode ser, basta-se a si próprio. Mas é preciso determinar o que devemos a Deus, tomando como ponto de partida o que pedem nossas relações essenciais com Ele.
Deus não necessita que honremos e amemos a nossos pais; sem embargo, ordena isso porque os deveres dos filhos nascem das relações que os ligam a seus pais. Deus não precisa que respeitemos as regras de justiça; sem embargo, manda que elas sejam obedecidas, porque essas regras estão fundadas nas relações que mantemos com nossos semelhantes. Assim, mesmo não necessitando de nossas homenagens, Deus as pede porque são a expressão das relações do homem com Deus. A religião deseja que sejamos religiosos para com Deus, assim como a moral quer que sejamos justos para com os homens.
Ora, o homem só é feliz neste mundo quando suas faculdades estão plenamente satisfeitas. E só a religião pode dar tranqüilidade ao espírito, paz ao coração, retidão e força à vontade. Logo, sem religião o homem não pode ser feliz neste mundo.
Por outro lado, a religião é absolutamente necessária ao homem para viver em sociedade com seus semelhantes. Para isso a sociedade necessita:
1º) Nos superiores que governam, justiça e pronta disposição para servir e favorecer os demais;
2º) Nos súditos, obediência às leis;
3º) Em todos, as virtudes sociais.
Só a religião pode inspirar aos superiores a justiça e a disposição para sacrificar-se pelo bem dos súditos; aos súditos, o respeito ao poder e a obediência; a todos, as virtudes sociais, a justiça, a caridade, a unção, a concórdia e o espírito de sacrifício pelo bem dos demais. Logo, a religião é necessária à sociedade.
A moral sem Deus, a moral independente, é uma moral sem base e sem cume, uma moral quimérica, que carece de força coercitiva e de sanção eficaz. Deus deve ser a base fundamental da moral. Por isso, a moral sem religião é uma justiça sem tribunais, quer dizer, nula.
Quando a consciência não está dirigida pelo temor e pelo amor de Deus, não tem mais norma senão suas paixões, seus desejos, seus caprichos, sem outro objeto senão o orgulho, o egoísmo, a astúcia e a fraude.
Conclusão: “Se a religião é necessária à sociedade, esta deve, como o indivíduo, reconhecer mediante culto público e solene o soberano domínio de Deus; tanto mais que, particularmente por meio de suas cerimônias religiosas, eleva os pensamentos, depura os sentimentos do povo e o melhora. Era mister chegar a nossos tempos para encontrar-se homens que pedem a separação entre a Igreja e o Estado. Esta concepção é um produto do ateísmo moderno” (Guyot).
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* Tradução de trechos do livro La Religión Demostrada, do Padre P.A. Hillaire, Editorial Difusión, Buenos Aires, 8ª edição, 1956, pp. 83 e ss.
Fonte: Revista Catolicismo, outubro de 2009, Leitura Espiritual