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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Eleição presidencial: o Brasil ante o perigo esquerdista e o vácuo político



No próximo dia 5 de outubro o Brasil efetuará a oitava eleição presidencial, após a assim chamada redemocratização. Eleição que, tudo parece indicar, só no segundo turno, a realizar-se três semanas depois, definirá o futuro ocupante do Palácio do Planalto.

O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, com o presente comunicado, não pretende imiscuir-se nas disputas partidárias que, em nosso País, são marcadas, de modo preponderante, por divergências de interesse de personalidades ou de clãs políticos, mais do que por desacordos de elevado nível doutrinário.
Entretanto, a presente eleição presidencial traz em seu bojo questões ideológicas inquietantes, muitas vezes afastadas da atenção do público por debates irrelevantes. Sendo diversas dessas questões de vital importância para a Igreja e para a civilização cristã, é compreensível que suscitem indagações no espírito de muitos católicos, sobretudo quando percebem seus valores ameaçados. Acresce-se a isso que tais questões ideológicas estão muitas vezes impregnadas do pensamento doutrinário, da atuação política e da agitação social da “esquerda católica”.
Por tais motivos, pareceu conveniente ao Instituto Plinio Corrêa de Oliveira – entidade civil, composta de leigos católicos (1) – apresentar aqui uma série de reflexões destinadas antes de tudo a seus dedicados simpatizantes, mas também aos católicos e aos eleitores em geral. Reflexões que submete igualmente à atenção dos políticos e dos candidatos engajados no atual pleito.

1. Quadro político e eleitoral conturbado
O presente pleito eleitoral insere-se num quadro político bastante instável e confuso.
Um crescente descontentamento com os rumos dados ao País pelo governo da Presidente Dilma Rousseff levaram, nestes últimos meses, a inequívocas manifestações públicas de desagrado em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT) e à própria figura da Presidente.
Em junho do ano passado, grandes manifestações realizadas por todo o País tinham feito soar o alarme. Mas o governo preferiu ignorar e até distorcer o sentido profundo das mesmas, ensaiando a convocação de uma Assembleia Constituinte específica que lançasse o País numa obscura reforma política.
Enquanto isso, o Brasil era assombrado por denúncias, cada vez mais arrepiantes, de bilionários esquemas de corrupção, instaurados no coração do Estado e visando a consecução de um projeto de poder, com laivos acentuados de totalitarismo.
Desde então, alastraram-se os fatores de incompreensão e de indignação, nas camadas profundas da população, e foi crescendo o desejo de obter nas eleições o afastamento do PT do poder.
*  *  *
Foi nesse ambiente sócio-político conturbado que se delineou o presente pleito eleitoral. Para ele muitos se voltavam com um misto de esperança e de desconfiança. Esperança de uma real mudança de rumos em relação à marcha desagregadora empreendida pelo governo; e desconfiança de que a presente disputa eleitoral nada mais fosse do que uma repetição de outras eleições, em que os debates sérios a respeito dos rumos do País estiveram ausentes.
A campanha eleitoral dava seus passos iniciais, quando a morte do candidato do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, no brutal e ainda não inteiramente esclarecido acidente aéreo que o vitimou, junto com outras seis pessoas, aportou novo fator de conturbação ao quadro político.
As mudanças abruptas na corrida presidencial, em decorrência de tal acidente, só tornaram mais aguda a distorção que atinge habitualmente as disputas eleitorais no País, máxime para o cargo de Supremo Mandatário da Nação.

2. O mundo político erra o alvo de sua pontaria publicitária
Plinio Corrêa de Oliveira, o intrépido líder católico, cujo pensamento e métodos de ação inspiram o Instituto que leva seu nome, sempre alertou – em inúmeras análises da realidade nacional, seja em artigos para a grande imprensa, seja em manifestos ou em livros de ampla divulgação – para o desacerto gravíssimo entre importantes setores do mundo político e a parte mais preponderante e sadia de nossa opinião pública.
Segundo ele, um equívoco, manuseado por políticos verdadeiramente esquerdistas, por certo capitalismo publicitário, por clérigos progressistas e favorecido ainda por hábeis táticas de propaganda, fez crer a muitos dos que atuam em nossa vida pública que a opinião pública brasileira constitui um imenso caudal a caminhar gradualmente para a extrema-esquerda.
Por tal motivo, para a maioria dos políticos a-ideológicos, a corrida para a esquerda tornou-se sinônimo de corrida para uma popularidade triunfal. Imaginam eles que, quanto mais se colorirem de tintas esquerdistas, tanto mais ganharão terreno na simpatia popular.
Movidos por tal ilusão, até mesmo políticos convictamente centristas (ou até um ou outro direitista) relegaram ao abandono todo o potencial político de que disporiam, caso se opusessem com firmeza à esquerdização dissolvente que vai arruinando o País.
Assim, a parte mais substancial do mundo político pôs sua mira na esquerda, errando o alvo de sua pontaria publicitária que deveria estar no centro, de si conservador. Um centro conservador não adepto de um imobilismo total, mas favorável à manutenção de uma determinada ordem de coisas.
Como também observava Plinio Corrêa de Oliveira, na vida humana – considerada no plano individual como no político – nada é absolutamente estável. Tudo o que vive se move, e por isso nesse grande centro conservador se encontram tendências ora para a direita, ora para a esquerda, tendências essas que, entretanto, não cindem tal imenso bloco majoritário e não o deslocam de sua postura fundamentalmente centrista.
Convém ainda precisar que tal fenômeno de conservantismo brasileiro possui notas mais acentuadamente psicológicas do que ideológicas. É generalizada nele a persuasão de que, diante de um mundo cheio de incertezas e de crises, quaisquer solavancos, reformas ou aventuras poderão ser fatais. E todos nele anseiam, ao contrário, por segurança e estabilidade.

3. Grave distorção: candidatos majoritariamente de esquerda
Como fruto desse desacerto fundamental entre o mundo político e a parte preponderante da opinião pública, o País vive, a cada eleição, um angustiante paradoxo: quase todas as candidaturas de peso tendem para a esquerda (mais ou menos radical) e a imensa maioria da população, centrista e conservadora, não encontra representante de projeção que com ela se identifique.
Tal distorção faz com que muitos não encontrem espaço para expressar as reflexões ansiosas de se comunicarem, os ideais, as sugestões políticas, sociais e econômicas que acalentam no fundo da alma. Abafados assim em suas legítimas aspirações, sem candidatos que as vocalizem e compelidos, por outro lado, pela obrigatoriedade do voto, muitos destes nossos compatriotas buscam uma válvula de escape, algum candidato que possa parecer uma contestação a esse sistema. Isso torna a escolha eleitoral um exercício altamente volúvel, imprevisível, marcado pela impulsividade, pelas reações temperamentais, por uma certa torcida, às quais, na maioria das vezes, estão alheios a observação, a reflexão e o planejamento da ação.
Some-se a esse quadro geral, o fator específico da alta dramaticidade da morte do candidato Eduardo Campos e facilmente se entenderá a presente corrida eleitoral. Uma disputa necessariamente conturbada, marcada muito fortemente por uma nota emotiva, por reações impulsivas, em que o debate sério de temas profundos e de programas de governo (2) foi trocado pelos ataques rasteiros, pelas mentiras deslavadas, pelos truques de propaganda (3).

4. A esquerda no poder se isola, diante de um público que caminha do desagrado para o ressentimento
A explanação acima ajuda a entender a encruzilhada política que vive o Brasil a poucos dias do primeiro turno da eleição presidencial.
Nestes últimos doze anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) alcançou êxitos eleitorais em boa medida ilusórios. Suas conquistas foram, em ponderável medida, fruto de um eleitorado que acabou por votar na esquerda sem ter uma mentalidade autenticamente progressista ou esquerdista. A isto era ele condicionado por diversos fatores – publicitários, de vantagens e benesses sociais, de pregações religiosas, de calculismo, e até pela ausência de uma mais ampla gama ideológica de candidatos.
Entretanto, os estrategistas da esquerda imaginaram que o êxito de seus jogos publicitários equivalia a um ganho de terreno na opinião pública. Não souberam entender que, ainda que vencido pelo bloqueio de atenção e pela pressão sobre sua capacidade de análise, fruto das mais eficazes técnicas de propaganda, o “homem da rua” não se deixou propriamente convencer. Certa simpatia despreocupada que o levou a votar na esquerda, não era isenta de uma nota de desconfiança.
Dando, pois, aos êxitos eleitorais o alcance que eles não tinham, o PT, apesar de inicialmente ter evitado intervir na economia, se açodou na implementação de sua agenda sócio-política e deu livre curso a seus métodos de ação, tantas vezes autoritários.
Cada dia mais, o PT foi-se mostrando ácido diante das críticas, alimentando o clima odioso do “nós contra eles”. O aparelhamento do Estado; as políticas públicas anti-“discriminatórias”, que deslancharam tensões sociais, antes inexistentes no País; o favorecimento de “movimentos sociais” desrespeitadores da propriedade privada e do Estado de Direito; as propostas de controle da imprensa; o aumento de intervenção estatal na economia; as relações internacionais submissas a interesses ideológicos espúrios; o crescimento abrupto de escândalos de corrupção, etc., tudo isso foi fazendo o Brasil se sentir, pouco a pouco, ludibriado em seus anseios de uma ordem distendida e pacata.
A esquerda no governo foi caindo no isolamento, diante de um público inicialmente desagradado embora silencioso, depois agastado e, por fim, ressentido e furioso.
Seria por demais exaustivo analisar aqui a gênese dos protestos de junho do ano passado, mas é fato que os mesmos acabaram por se transformar em um imenso transbordar deste descontentamento público, para o qual convergiram insatisfações regionais e nacionais, políticas, sociais, econômicas, culturais, o que deu a tais manifestações um aspecto multifacetado.
Encerrado em sua própria utopia, o governo petista tentou ainda escamotear o sentido de tais protestos e radicalizar seu projeto de poder.
Embora as grandes manifestações tenham naturalmente refluído, o descontentamento com o PT e seu modo de governar foi se multiplicando e dando sinais vivos por toda a parte do território nacional e em todos os segmentos da sociedade.
Chegou-se, assim, à presente disputa eleitoral em que, para muitos, o intuito primordial de uma renovação política era afastar, pelo voto, o PT do poder.

5. Projetos políticos semelhantes
Subitamente um evento de notas trágicas convulsionou a atmosfera política.
A forte carga emocional de uma família, jovem e numerosa, dilacerada por um trágico desaparecimento, juntamente com pesquisas que apontavam uma disparada acentuada nas intenções de voto em Marina Silva, fizeram entrever, num desses rompantes típicos de nossa agilidade de espírito, que a candidatura desta última poderia ser a “bala de prata no coração do lulopetismo”, para usar a expressão de um matutino paulista (4).
Some-se a isso certa nota messiânica, certo utopismo de quimeras suaves ou brilhantes, envolta em linguagem fantasiosa e sedutora, que cria a impressão, ou a ilusão, da possibilidade de uma outra política, distante dos conchavos pouco coerentes e das iniciativas políticas tantas vezes enlameadas e corruptas do atual panorama, e se compreenderá o atual quadro de preferência de voto (5).
Mas, se bem analisada a situação, o País parece encaminhar-se para uma disputa entre dois projetos políticos esquerdistas (6), não tão diferentes entre si e, mais grave ainda, que radicalizarão os ânimos e criarão inevitavelmente fissuras no corpo social.

6. Decreto dos Conselhos Populares
Essa radicalização virá, antes de tudo, em decorrência do Decreto presidencial 8243, o qual constitui – como o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira teve oportunidade de alertar (7) – um gravíssimo ataque às instituições vigentes, no que pode ser qualificada de uma tentativa de golpe de Estado incruento.
Devido a manobras legislativas, articuladas pelo Governo Federal, a Câmara não conseguiu derrubar tal Decreto, já comparado a um decreto bolivariano ou bolchevique, que torna obsoletas as instituições do Estado de Direito, criando organismos informais através dos quais minorias militantes condicionarão a sociedade e o governo.
Tal decreto será, sem dúvida, uma das chaves do próximo mandato presidencial e as duas candidatas, que ora ocupam a liderança das pesquisas, vêem nele a oportunidade de um “aperfeiçoamento” da democracia, rumo a uma “democracia popular” tão ao gosto dos sistemas totalitários socialistas.
Agrava-se essa perspectiva quando se considera que a própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em seu documento nº 91, “Por uma reforma do Estado, com participação democrática”, endossa a criação de estruturas de participação popular, questiona a democracia representativa e propõe uma nova forma de viver a democracia, tudo em sintonia com o decreto presidencial 8243.

7. Reforma Agrária
Volta de novo ao debate a idéia de incrementar a Reforma Agrária, a velha utopia de esquerda, que ao longo de décadas tem debilitado o direito de propriedade, criando em milhões de hectares de nosso território verdadeiras “favelas rurais” ou unidades mais ou menos coletivizadas, as quais dependem, para sobreviver, das “esmolas” governamentais.
Alguns querem privilegiar a chamada “agricultura familiar” (um termo dúbio e habilmente manipulado) em detrimento do agronegócio, em franco progresso nos seus aspectos essenciais, de sorte a constituir hoje a coluna-mestra, e a salvaguarda honrada e forte da economia nacional.
Volta igualmente ao debate eleitoral o fantasma dos índices de produtividade rural. Reconhecidamente não existem, no Brasil, propriedades rurais particulares improdutivas. Aventar-se a revisão dos índices de produtividade só pode fazer crescer a insegurança jurídica no campo, com a consequente volta de invasões e do arbítrio.
Radicalizar o caminho agro-reformista – além de violar o direito de propriedade, consagrado em dois Mandamentos da Lei de Deus – gerará mais conflitos e injustiças no campo, contra aqueles que incansavelmente labutam pacificamente em toda a imensidão de nosso território. Tais propósitos só podem gerar susto e apreensão.

8. Reforma Urbana
Enquanto desordens de todo o tipo se têm propagado pelo Brasil, como uma erisipela, é fácil perceber que certos mecanismos de agitação e ação política passaram a assestar seu foco sobre os grandes conglomerados urbanos, para aí promoverem movimentos desestabilizadores.
A Reforma Urbana, quiçá ainda mais tempestuosamente esquerdista do que a Reforma Agrária, constitui mais um fantasma acabrunhador a perturbar as horas de trabalho, de lazer e de sono de todos quantos no Brasil possuem imóveis.
Salta aos olhos o contraste entre a ameaça que pesa sobre os cidadãos prestantes que habitam nosso solo urbano, ameaçados de sofrer uma sumária e despótica perseguição legal, e a impressionante liberdade de que gozam os agitadores camuflados pela demagógica qualificação de “sem-teto”, recebidos por autoridades após praticarem seus atos ilegais de desrespeito à propriedade.
Ora, também aqui e acolá na disputa eleitoral parece entrever-se o desígnio da intervenção estatal urbana, sob o pretexto de desenvolver cidades saudáveis, democráticas e seguras. A ameaça à propriedade urbana e as tentativas de forçar despoticamente mudanças nos hábitos comportamentais dos cidadãos parecem entrar na mira de um próximo mandato presidencial.

9. Reservas indígenas e terras quilombolas
Os projetos políticos em pauta contemplam um incentivo à desastrosa – e muitas vezes ignominiosa – política indigenista.
Bafejada por uma corrente ideológica de clérigos e leigos, ligados à Teologia da Libertação, tal política indigenista é crítica da obra colonizadora dos portugueses bem como da influência civilizadora dos missionários, a exemplo da exercida por São José de Anchieta.
Em vez de estimular a mútua compreensão cristã, que consolide cada vez mais a unidade brasileira, o indigenismo suscita incompreensões, rivalidades e atritos, contrários à miscigenação e ao caráter cristão e cordato de nosso povo.
A política de demarcação de terras indígenas tornou-se indiscriminada, abusiva e baseada numa concepção hipertrofiada dos direitos dos índios. Alguns deles, tantas vezes manipulados por propagandas eficazes e por agitadores políticos ou religiosos, acabam por se engajar em invasões de terras e agressões à propriedade privada, gerando insegurança e fomentando rancores raciais tão alheios à índole do brasileiro.
Cabe ressaltar, que as leis e os projetos políticos em discussão nesta eleição, tão ciosos de impor índices de produtividade aos proprietários rurais, concedem aos índios áreas verdadeiramente latifundiárias, que permanecem inaproveitadas, não cumprindo a tão decantada função social.
Mas a continuação de uma política de demarcação de reservas indígenas parece apontar agora para uma nova perspectiva: a da autonomia de tais reservas. Seria assim reconhecida, aos vários grupos indígenas, uma como que soberania face ao Estado, o que de si caminha para o esfacelamento da unidade e da soberania nacionais.
Como não perceber que a perspectiva de, na prática, ver dilacerada nossa soberania, e atingida essa imensa unidade territorial de que sentimos orgulho, é de molde a agredir a ufania de ser brasileiro que de tantos modos se manifesta, até mesmo em eventos públicos de grande repercussão?
O que aqui fica dito sobre a política indigenista, poderia ser afirmado, de modo similar, a respeito da política de demarcação das terras quilombolas.

10. Aborto
Mais uma vez não há clareza, nem determinação nas propostas políticas de defesa da vida. A consagração da prática do aborto pela legislação – tema candente para milhões de brasileiros e, especificamente, para os católicos – é quase completamente silenciado nos debates eleitorais. Os eleitores podem recear que esse silêncio seja prenúncio, após as eleições, por parte das candidatas que agora lideram as pesquisas, de medidas e propostas que agridam o sentir comum de nossa população, e se choquem com os valores cristãos da grande maioria da mesma.

11. “Casamento” homossexual
Em rota de colisão com os sentimentos e convicções das sociedades constituídas sob o bafejo dos ensinamentos do Evangelho, os ativistas do movimento homossexual tentam consagrar socialmente a prática do homossexualismo, apesar de flagrantemente oposta à Lei natural e à moral revelada.
Segundo afirmam os líderes desses movimentos, está em curso, sobretudo nas sociedades ocidentais e cristãs, uma verdadeira revolução moral e religiosa, oposta ao próprio cristianismo. Ela se traduz, entre outras coisas, na legalização do chamado “casamento” homossexual.
Sendo o casamento reconhecido – ao longo da História e em todas as civilizações – como o vínculo permanente que une um homem e uma mulher, com o objetivo comum de gerar uma prole e constituir família, não tem sentido falar-se de “casamento” homossexual.
Não obstante, em nome dos plenos direitos da cidadania, levanta-se outra vez o tema da aprovação do “casamento” homossexual em nosso País, em afronta aos sentimentos e convicções cristãs da forte maioria da sociedade (8).

12. Criminalização da “homofobia”
Em sua auto-proclamada revolução moral e religiosa, os ativistas do movimento homossexual, utilizam o termo “homofobia” para tachar, de modo depreciativo, todos aqueles que se manifestam, com argumentos racionais, científicos ou religiosos, às práticas do homossexualismo.
Mas os militantes desta revolução vão mais longe e pretendem criminalizar todos os que se opõem a sua agenda, por exemplo em nome da Lei natural e dos Dez Mandamentos.
Assim, já tramita no País um projeto de criminalização da homofobia, o qual tem sofrido forte rechaço da sociedade. Mas o tema de novo vem à baila nesta campanha eleitoral. Quem não percebe que tal proposta abriria as portas para a perseguição de caráter religioso e para os chamados crimes de opinião?

13. A estranha omissão da CNBB
Face aos rumos para os quais aponta tal quadro eleitoral, é compreensível a perplexidade dos católicos – e de tantos outros que não o sendo reconhecem o papel fundamental da Igreja – ante a quase completa omissão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Era natural que esse organismo episcopal fizesse sentir a influência sobrenatural da Santa Igreja, pela pregação da verdade evangélica, para o bem espiritual, intelectual e moral daqueles que a ela se abrem. Mas, infelizmente, a CNBB vem relegando para segundo plano uma série de temas de primordial importância religiosa e moral no que diz respeito ao bem comum espiritual e temporal do Brasil; e vem tentando modelar a opinião pública a seu gosto em determinados problemas políticos e sócio-econômicos, em incursões em matéria especificamente temporal, revestidas, por vezes, de uma agressividade voltada para a agitação.

14.  O Brasil mediano, o Brasil sensato, o Brasil autêntico anseia por estabilidade e paz
É difícil governar um povo com base numa miragem! Ou seja, criando a ilusão da existência de um espírito progressista – ou esquerdista – nas camadas profundas da população, onde ele, na verdade, não existe. É igualmente difícil governar um povo cordato cortejando minorias muitas vezes radicais.
Se o mundo político não vencer a magia dos velhos mitos e insistir num reformismo festivo, rumo a um esquerdismo cada vez mais radical (baseado em vitórias eleitorais ilusórias), serão cada vez mais raros no público aqueles que os acompanharão.
Nesse caso, qualquer candidato que vier a ocupar o Palácio do Planalto dificilmente escapará ao vácuo terrível do qual o mundo político, já hoje, está custando a escapar.

*  *  *
 
A encruzilhada que o País vive neste momento, cabe em boa medida aos nossos homens públicos resolvê-la. Continuarão eles a deixar sem voz e sem vez uma grande maioria centrista e conservadora, não atuando como resolutos mandatários da mesma? Continuarão a privilegiar sentimentos progressistas ou esquerdistas fictícios?
Diante dos múltiplos fatores desestabilizadores que marcam nossa atual conjuntura, em que é contínuo o esforço de certas minorias para suscitar confrontos e dissensões sociais, ao estilo da velha luta de classes, o Brasil mediano, o Brasil sensato, o Brasil autêntico anseia por serenidade, por estabilidade e por paz.
Este Brasil que recusa aventuras e rupturas sócio-políticas, necessitaria de uma candidatura viável que soubesse vocalizar suas aspirações e se comprometesse:
  • a ser a alternativa clara e firme ao governo do PT;
  • a fazer cessar as imensas máquinas de corrupção;
  • a tornar a administração pública credível;
  • a cicatrizar as chagas do jogo político-social do “nós contra eles”;
  • a não introduzir qualquer legislação que venha a permitir o aborto;
  • a não modificar a ordenação legal da família, mantendo o matrimônio como união estável entre homem e mulher;
  • a não impor a educação estatal às crianças e a garantir o direito da família de educar seus filhos;
  • a não aprovar programas e reformas educacionais que implantem a anti-natural “ideologia de gênero”;
  • a fazer cessar as agitações e reformas que ameaçam a propriedade urbana;
  • a fazer cessar as múltiplas ameaças contra a propriedade no campo e a dar estabilidade aos produtores rurais, verdadeiro esteio de nossa economia;
  • a rever a chamada política indigenista e a repensar e reformular as demarcações de reservas indígenas e de terras quilombolas;
  • a livrar a economia do dirigismo estatal, a favorecer a iniciativa privada, a diminuir a onerosa carga tributária.
*  *  *
O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira apresenta aqui estas reflexões, como contributo ao que está persuadido serem os mais altos interesses do Brasil e da civilização cristã na presente conjuntura, depositando seu esforço aos pés de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira de nossa Nação.

São Paulo, 24 de setembro de 2014
Festa de Nossa Senhora das Mercês
Adolpho Lindenberg
Presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

========== Notas =========
(1) O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO) não representa a Sagrada Hierarquia, não foi fundado por ela, nem por ela é dirigido. Nossa entidade foi fundada e é dirigida por leigos católicos que, inspirados nos ensinamentos da doutrina social tradicional da Igreja, visa tão só atuar no campo temporal, em favor da civilização cristã, sob a exclusiva responsabilidade de seus integrantes. Sem embargo, ela se sujeita, com filial obediência, à vigilância da Sagrada Hierarquia em tudo quanto diz respeito à Fé, à Moral e à disciplina eclesiástica (cfr. Código de Direito Canônico, cânones 212 §1, 215, 225 §2, 227).
(2) Sobre a indefinição de programas dos candidatos, o jornal “Valor”, de 16 de setembro, destacou que o PSB prepara a revisão de programa para 2º turno: “Com vistas a um provável segundo turno, a campanha da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, já prepara mudanças no plano de governo, com um detalhamento maior de propostas” (PSB prepara a revisão de programa para 2º turno).
A candidata Marina Silva já havia realizado diversas erratas em relação ao programa entregue à Justiça Eleitoral.
A “Folha de S. Paulo”, por sua vez, destaca em editorial, do dia 19 de setembro, a respeito dos outros candidatos: “O senador [Aécio Neves] ainda promete finalizar seu programa de governo, mas até hoje, faltando 16 dias para a votação, não avançou além das diretrizes gerais que todo candidato deve, por lei, protocolar ao registrar sua postulação. (…)
“Desconfortável mesmo deveria estar a presidente Dilma Rousseff (PT), que teve atitude bastante distinta. Diante das divergências entre o que defende seu partido e o que pretende seu governo, a mandatária considerou oportuno suspender a divulgação de seu programa. (…)
“Ao eleitor, por óbvio, essa lógica mesquinha de nada serve. Como saber de que maneira Dilma planeja se comportar num eventual segundo mandato se nem aceita assumir compromissos formais?” (Descaso programático).
(3) A este respeito são elucidativas as palavras de Antonio Delfim Netto: “O evidente mau uso dos recursos dissipados na propaganda eleitoral `gratuita´ (paga pela sociedade desapercebida) que em lugar de educar o cidadão, deseduca-o em matérias cuja boa compreensão é fundamental para o voto consequente. Exacerba o voluntarismo como solução para nossos graves problemas” (Limite inferior, “Folha de S. Paulo”, 17 de setembro de 2014).
Carlos Heitor Cony ressalta igualmente o vazio da disputa eleitoral: “Finalmente, o clima eleitoral esquentou. Esquentou até demais. A entrada de Marina botou fogo numa disputa que ameaçava a tepidez (…). Mesmo assim, a disputa nem chega a ser política, mas quase esportiva, o eterno flá-flu, o maniqueísmo em sua forma radical. Dilma e Marina baixaram o nível da campanha” (Flá-flu eleitoral, “Folha de S. Paulo”, 16 de setembro de 2014).
(4) O “Estado de S. Paulo”, em Notas & Informações: “É cada vez menor o número dos que duvidam hoje da derrota de Dilma Rousseff nas urnas de outubro. Mas a probabilidade da vitória de Marina Silva poderá resultar em enorme decepção para quem acredita que o voto na ex-senadora é o melhor caminho para livrar o País do lulopetismo. Esta é a conclusão a que têm chegado, nos círculos políticos de Brasília, petistas e não petistas com algum acesso a Lula, a partir da análise de seu comportamento diante de um quadro eleitoral que era impensável pouco tempo atrás. (…)
“Lula, portanto, parou para pensar em si mesmo, entregar os anéis para salvar os dedos e se concentrar em 2018, quando ele próprio poderá tentar, com o prestígio popular que lhe tiver restado, uma volta triunfal ao Palácio do Planalto. E, pelo que dizem ser seus cálculos, a eleição de Marina Silva agora pode ser mais útil a esse objetivo do que a reeleição de Dilma. (…)
“A ser isso verdade, votar em Marina com a intenção de cravar uma bala de prata no coração do lulopetismo seria comprar gato por lebre” (As coisas podem não ser o que parecem, 7 de setembro de 2104).
(5) Em editorial, a revista “Isto É” aponta: “[Marina Silva] sem definir propostas ou detalhar planos, surfa na conveniência do discurso generalista que soa simpático às massas, mas que peca na consistência e no leque de alternativas concretas para colocar o País de volta aos trilhos” (O que é a `Nova Política´?, 3 de setembro de 2014).
Por seu turno, Renato Janine Ribeiro, afirma no jornal “Valor”: “Se a terceira candidata [Marina Silva] adquiriu, tão rapidamente, tantas intenções de voto, sobretudo entre os que eram indecisos, é mais pelo desencanto com os dois grandes partidos do que pelo conteúdo de suas propostas” (Quem ganhar perderá, 20, 21 e 22 de setembro de 2014).
(6) Tomamos aqui o termo “esquerdista” não apenas como um conjunto de reformas sócio-econômicas visando estabelecer, a prazo curto ou médio, a inteira igualdade entre os homens, mas também tudo quanto corrói, corrompe ou dissolve a moral cristã, fundamento da civilização ocidental. Todas as leis que favorecem o permissivismo omnímodo de nossos dias pode e deve ser tido como genuína expressão da mentalidade e da doutrina esquerdista (cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, O descontentamento da direita e do centro, “Folha de S. Paulo”, 21 de julho de 1978).
(7) Cfr. Comunicado do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, Importante passo rumo ao modelo venezuelano, 22 de junho de 2014.
(8) Não deixa de ser significativo deste rechaço o ocorrido quando da apresentação do programa de governo da candidata Marina Silva: “Pressionada pelo pastor evangélico Silas Malafaia, a chapa de Marina retirou o apoio à criminalização da homofobia e ao casamento gay do programa de governo apresentado 24 horas antes. Marina alegou que a inclusão do texto havia sido um equívoco de sua equipe, mas o estrago, sobretudo nas redes sociais, a essa altura já estava feito” (Marina sob fogo cerrado, Mariana Barros e Malu Gaspar, “Veja”, 10 de setembro de 2014).

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Três caixas de ovos contra a vida e a família? Confira!


Cabo eleitoral do candidado Toninho Ferreira, PSTU, agride jovens do IPCO durante campanha de distribuição de volantes pedindo à Nossa Senhora Aparecida que livre o Brasil dos maus políticos.

Quando comunista-abortista não tem argumento(razão), apela-se para...
 Devemos está também dispostos a levar ovos pela Vida e a Família!!! Junte-se a essa Cruzada pela Família!





***
Também não deixe de mandar o seu protesto:
 
 
Você está cansado de políticos incompetentes, ladrões e desqualificados para estarem no Congresso nos representando?
Você está cansado de políticos incompetentes, ladrões e desqualificados para estarem no Congresso nos representando?
Eu estou cansado de ver lobo em pele de cordeiro pedindo o meu voto em cada eleição. E depois votando leis contrárias à minha Moral
Não quero mais ser enganado!
Se você também não quer ser enganado nessa eleições de 2014, veja aqui o que fazer.
Vamos juntos desmascarar estes lobos que querem nos engolir.

www.minhacartaaberta.com.br/candidatos2014/
Minha Carta Aberta

 

 

As eleições estão logo aí.

Muita coisa está errada? Sim. É preciso mudar nas urnas? Sim. Mas por que nós, cristãos, também não podemos nos unir em orações? A hora é agora.
É simples. Reze uma Ave Maria pelo Brasil. Sua oração se unirá a de milhões de pessoas, como uma única súplica a Deus e Nossa Senhora para que:
  • livre nosso país dos maus políticos
  • nos proteja daqueles que são contra a família e os princípios cristãos
  • as pessoas que se dispuserem a rezar automaticamente estarão rezando pelas pessoas que já rezaram também.
 
O Brasil está nas suas mãos.
A decisão é sua.

Descubra aqui o que fazer.
 
[16:25:19] João Schleder: Se você não conseguiu visualizar esta imagem, veja aqui

terça-feira, 2 de setembro de 2014

PASCENDI — a monumental encíclica que fulminou a heresia modernista (PARTE II)


Revista Catolicismo, Nº 764 (agosto/2014)

Parte II
Em 1907, São Pio X condenou o movimento modernista que se infiltrara nas hostes católicas com a finalidade de relativizar, e até mesmo deturpar, o ensinamento do magistério tradicional e infalível da Igreja e levar os católicos incautos a aceitarem os erros do mundo moderno


São Pio X
O Pontífice trabalhando em sua biblioteca particular
Certamente um dos mais importantes documentos do Papa São Pio X foi sua célebre Encíclica Pascendi Dominici Gregis, sobre as doutrinas dos modernistas, promulgada pelo Sumo Pontífice em 8 de setembro de 1907. Ela alcançou enorme repercussão no século XX e continuará ecoando ao longo da presente centúria. Em nossos dias, o movimento progressista — infiltrado nas próprias fileiras católicas — utiliza-se das mesmas táticas e espalha nos ambientes da Igreja erros condenados por São Pio X, que denunciou e estigmatizou a doutrina modernista como sendo a “síntese de todas as heresias”.
Neste centenário do falecimento do santo autor da Pascendi, oferecemos aos nossos leitores excertos especialmente marcantes dessa admirável e intrépida encíclica. Tais excertos encontram-se citados em três matérias de autoria do insigne líder católico Plinio Corrêa de Oliveira, publicadas em nossas edições de setembro, outubro e novembro de 1957. Ele transcreve trechos da Pascendi,(*) enaltece a firmeza de São Pio X, e o apresenta como modelo para o combate aos inimigos internos e externos da Santa Igreja.

A Direção de Catolicismo
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Denúncia da tentativa de adulterar o Magistério tradicional e infalível da Santa Igreja de Deus
 
“Esperávamos que os modernistas algum dia se emendassem. Por isto, de início, usamos em relação a eles medidas suaves, como se faz com filhos, e depois medidas severas; por fim, e muito a contragosto, empregamos repreensões públicas”
 
 
  • Plinio Corrêa de Oliveira
Catolicismo, nºs 81, 82 e 83 — setembro, outubro e novembro de 1957

São Pio X
São Pio X nos jardins do Vaticano
Se São Pio X não tivesse fulminado a heresia modernista, o mundo teria entrado rapidamente em marcha para o panteísmo e o ateísmo. E toda a ação comunista sobre a face da Terra não teria encontrado diante de si os enormes obstáculos que encontrou.
A condenação do modernismo foi, pois, um fato histórico tão importante quanto a vitória de Lepanto. E o Papa Pio XII [elevando Pio X à honra dos altares, em maio de 1954] se tornou credor do reconhecimento eterno dos homens, por lhes haver apresentado por modelo e dado por protetor um tão grande santo. […]
“Odiai o erro, amai os que erram”, escreveu Santo Agostinho. Grande, sábia, admirável sentença. Entretanto, quantas aberrações, quantas traições, quantas capitulações vergonhosas se têm abusivamente cometido em nome dela!
Há pessoas cândidas — ou covardes — que imaginam as ideias como entes dotados de existência física própria e autônoma, os quais se incubariam misteriosamente nas pessoas. Segundo elas, pode-se mover guerra às ideias sem atacar as pessoas, mais ou menos como se pode combater a doença infecciosa sem atingir o doente, pois a guerra é tão somente contra o bacilo.
Este modo de ver, infelizmente muito generalizado em nossos dias, beneficia largamente nossos adversários, pois desarma toda a nossa reação.
A verdade e o erro não são algo de extrínseco ao espírito humano, como as fichas na gaveta de um fichário. A inteligência, pelo contrário, tende a assimilar este e aquela, por um processo que tem sido merecida e frequentemente comparado à digestão. Se alguém come pão ou carne, a digestão incorpora ao organismo uma parcela da substância desses alimentos, que ficam fazendo parte da pessoa. Analogamente, se alguém aceita uma doutrina, esta de tal maneira pode chegar a marcar sua personalidade, que se diria figurativamente que tal homem personifica aquela ideia. Como pretender destruir o pão já digerido por uma pessoa, sem ferir esta última em sua carne? E como se pode atacar uma ideia sem atingir em certa medida quem a personifica, quem ipso facto lhe dá vida, atualidade e possibilidades de difusão?
Não. A sentença de Santo Agostinho é de sentido óbvio. Ela preceitua que desejemos a humilhação e a derrota do erro, bem como a conversão e a salvação de quem erra. Ela recomenda que usemos, para com quem erra, de toda a suavidade possível. Ela não nos proíbe de utilizar, contra aquele que erra, uma justa severidade, quando isto se torna necessário para o bem da Igreja e a salvação das almas. Nesse sentido, não chega aquela sentença ao ponto de inutilizar no católico a capacidade de ação e de luta contra os autores do erro ou do mal. Muito pelo contrário, os santos souberam sempre conciliar as duas obrigações fundamentais e aparentemente contraditórias, de amar o próximo e de o combater, quando a isto impele o zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas.
É disto que nos deu admirável exemplo o Papa São Pio X na Encíclica Pascendi, contra o modernismo, com o monumento de objetividade e lucidez que é aquele imortal ato pontifício.

São Pio X desmascarou os erros e os seus fautores
Enganar-se-ia quem supusesse que a Pascendi foi um mero documento doutrinário. São Pio X não combateu apenas no campo das ideias, mas, com admirável energia e perspicácia, desmascarou os próprios fautores do erro; e traçou o lamentável perfil moral do modernista, denunciou suas táticas e pôs a nu a vastidão de sua conspiração. A Encíclica não menciona nomes, mas é riquíssima em dados sobre a personalidade do modernista. Em outros documentos, São Pio X chegou aos nomes. Por exemplo, nos importantes decretos em que foram nominal e pessoalmente atingidos os principais chefes do movimento.
É para que nossos leitores possam medir em toda a sua admirável extensão a severidade com que o Santo Pontífice se houve nesta emergência, que consagramos ao assunto este artigo.
Fazendo-o, chamamos a atenção para a oportunidade flagrante do exemplo que apontamos. São Pio X foi beatificado e mais tarde canonizado pelo Santo Padre Pio XII. Quis ele que seu antecessor servisse de modelo para os homens, e não para os mortos que jazem na sepultura ou para as crianças que ainda estão por nascer. Foi para isto que ele fez brilhar na honra dos altares esse grande luzeiro.
Agir como São Pio X, eis o que nos recomenda com sua suprema autoridade o imortal Pontífice Pio XII. [...]

São Pio X
Suplemento de revista italiana noticia a condenação do modernismo por São Pio X
Os “modernistas” rejeitaram submeter-se à autoridade
         Os modernistas representam o sumo da obstinação, e com eles são inúteis as medidas brandas: “Esperávamos que os modernistas algum dia se emendassem. Por isto, de início, usamos em relação a eles medidas suaves, como se faz com filhos, e depois medidas severas; por fim, e muito a contragosto, empregamos repreensões públicas. Não ignorais, Veneráveis Irmãos, a esterilidade de Nossos esforços: eles curvam por momentos a cabeça, para a levantar novamente com orgulho ainda maior”.
Uma das raízes mais importantes deste lamentável estado de espírito, com efeito, é o orgulho:
“O orgulho! Ele está, na doutrina dos modernistas, como em sua própria casa; aí encontra ele por toda parte algum alimento, e se expande então em todos os seus aspectos. Orgulho, por certo, esta confiança em si mesmos, que os leva a se erigirem em regra universal. Orgulho, essa vanglória que os apresenta a seus próprios olhos como os únicos detentores da sabedoria; que os leva a dizer, arrogantes e repletos de si mesmos: não somos como os outros homens; e que, para realmente não serem como os outros, os impele às mais absurdas novidades. Orgulho, o que os faz repelir toda sujeição e os leva a uma conciliação da autoridade com a liberdade. Orgulho, essa pretensão de reformar o próximo, esquecendo-se de si mesmos; essa absoluta falta de consideração para com a autoridade, inclusive a autoridade suprema. Não, realmente, nenhum caminho há que conduza mais rápida e diretamente ao modernismo do que o orgulho. Que nos deem um leigo, ou um sacerdote, que tenha perdido de vista o princípio fundamental da vida cristã — a saber, que devemos renunciar a nós mesmos, se queremos seguir Jesus Cristo — e que não tenha extirpado de seu coração o orgulho: esse leigo, esse sacerdote estará maduro para todos os erros do modernismo. Eis por que, Veneráveis Irmãos, vosso primeiro dever é resistir a esses homens soberbos, e empregá-los em funções ínfimas e obscuras: que sejam postos tanto mais baixo quanto mais alto pretendam subir, e que seu próprio rebaixamento lhes tire a ocasião de fazer mal”. [...]

“Vítimas do erro que arrastam os outros ao erro”
Nascida dessa curiosidade malsã, a mania das novidades, o horror à tradição é uma das notas características do modernismo.
Por isto é que, pensando o Santo Papa Pio X nos modernistas –– que qualifica, com palavras da Escritura, de “homens de linguagem perversa, dizedores de novidades e sedutores, vítimas do erro que arrastam os outros ao erro” –– lamenta-se de que “cresceu estranhamente nestes últimos tempos o número dos inimigos da Cruz de Jesus Cristo que, com uma arte absolutamente nova e soberanamente pérfida, se esforçam por anular as energias vitais da Igreja, e até mesmo, se pudessem, por subverter inteiramente o reino de Jesus Cristo”. [...]
Os modernistas, como tantos protestantes, odeiam a pompa esplêndida do culto católico. Eis sua razão: “Do momento em que seu fim é todo espiritual, a autoridade religiosa se deve despojar de todo aquele aparato externo, de todos aqueles ornamentos pomposos, pelos quais ela como que se dá em espetáculo”. [...]
Percorrendo o quadro psicológico que do modernista pinta São Pio X, fica-se admirado com a franqueza de sua linguagem, com a clareza, a energia e a precisão de seus conceitos. É bem de ver que, se outrem que não um Papa — e que Papa! — assim se exprimisse, abriria flanco a que os liberais, cujos matizes são tão numerosos em nossa população, e infelizmente existem até nos círculos católicos, tivessem a impressão de que se está exagerando. [...]
 
No âmago da própria Igreja, a infiltração dos inimigos
É natural que, movidos por sua febre de novidades, os modernistas também se tenham lançado contra todas as boas tradições cristãs. [...]
Acrescenta o Papa: “O que exige, principalmente, que falemos sem tardança, é que os artífices de erros não devem ser procurados hoje entre os inimigos declarados. Eles se ocultam –– e nisto está um título de apreensão e de angústia muito particular –– no próprio seio e no coração da Igreja, inimigos tanto mais temíveis quanto menos declarados. Falamos, veneráveis Irmãos, de grande número de católicos leigos –– e, o que é mais deplorável, de padres –– que, sob o pretexto de amor à Igreja, absolutamente falhos de filosofia e de teologia sérias, impregnados, pelo contrário, até a medula dos ossos, de um veneno de erro haurido entre os próprios adversários da fé católica, se inculcam, com desprezo de toda modéstia, como renovadores da Igreja. Esses tais, em falanges cerradas, dão audacioso assalto a tudo quanto há de mais sagrado na obra de Jesus Cristo, sem respeitar sua própria Pessoa, que tentam rebaixar, por uma temeridade sacrílega, até o nível da simples e pura humanidade.
“Estes homens se espantarão de que os inscrevamos entre os inimigos da Igreja. Ninguém terá surpresa diante disso, com algum fundamento, quando — pondo de lado suas intenções, cujo julgamento está reservado a Deus — examinar suas doutrinas e, em função delas, seu modo de falar e de agir. Inimigos da Igreja, certamente eles o são; e ninguém se afasta da verdade dizendo que são dos piores. Não é de fora, com efeito — já o notamos — mas é principalmente de dentro que os modernistas tramam a ruína da Igreja; o perigo está hoje quase nas entranhas mesmo e nas veias da Igreja: seus golpes são tanto mais seguros quanto eles sabem melhor onde lançá-los”. [...]
“Não tendo horror de caminhar nas pegadas de Lutero”
Conforme a fundamental duplicidade de seu espírito, os modernistas têm toda uma tática especial para disseminar os seus erros, dando-lhes aparência de verdades atraentes e simpáticas.
Essa tática, São Pio X a descreveu admiravelmente: “O que projetará maior luz ainda sobre essas doutrinas dos modernistas é sua conduta, que é inteiramente coerente com suas doutrinas. Ao ouvir os modernistas, ao ler os seus trabalhos, ter-se-ia a tentação de acreditar que eles caem em contradição consigo mesmos, que são oscilantes e indecisos. Longe disso: tudo é pesado, tudo é desejado entre eles, mas à luz do princípio de que a fé e a ciência são estranhas uma à outra. Tal passagem de seus trabalhos poderia ser assinada por um católico; voltai a página, e tereis a impressão de ler um racionalista. Escrevendo história, nenhuma menção fazem da divindade de Jesus Cristo; subindo à cátedra sagrada, proclamam-na alto e bom som. Historiadores, desprezam os Padres e os Concílios; catequistas, citam-nos com honra. Se prestardes atenção, há para eles duas exegeses inteiramente distintas: a exegese teológica e pastoral, a exegese científica e histórica. Do mesmo modo, em virtude desse princípio de que a ciência não depende da fé, sob nenhum ponto de vista, se eles dissertam sobre a filosofia, a história, a crítica, ostentam de mil modos — não tendo horror de caminhar assim nas pegadas de Lutero — seu desprezo pelos ensinamentos católicos, pelos Santos Padres, pelos Concílios universais, pelo Magistério eclesiástico; advertidos sobre esse ponto, lançam brados de protesto, queixando-se amargamente de que se lhes viola a liberdade. Enfim, dado que a fé é subordinada à ciência, repreendem a Igreja — abertamente e em toda ocasião — pelo fato de que Ela se obstina em não sujeitar e não acomodar seus dogmas às opiniões dos filósofos”. [...]

Para melhor inocular o veneno: a tática da dissimulação
Os modernistas agem dentro da Igreja como verdadeira quinta coluna, pois, segundo é de toda evidência, sua intenção consiste em conservar o aspecto de católicos, para mais facilmente disseminar nas próprias fileiras católicas a peçonha de seus erros.
Infelizmente, como sempre acontece, existe uma terceira força para facilitar a ação dessa quinta coluna. Essa terceira força é formada por aqueles católicos, quiçá bem intencionados, que, por um excessivo desejo de conciliação, ou pelo temor de parecerem atrasados, retrógrados ou reacionários, adotam em sua linguagem, em suas atitudes, em toda a linha de sua conduta, uma orientação que, se não é diretamente modernista, facilita o deslizar perigoso dos espíritos para essa heresia.
Foi o que com muita finura observou o Santo Pontífice: “O que é muito estranho é que católicos, que sacerdotes, dos quais queremos pensar que tais monstruosidades lhes fazem horror, se comportem entretanto, na prática, como se as aprovassem plenamente; é muito estranho que católicos, que sacerdotes, tributem tais louvores, prestem tais homenagens aos corifeus do erro, que se tem a impressão de que desejam honrar por esta forma, não os homens em si mesmos, talvez não de todo indignos de alguma consideração, mas os erros que tais homens abertamente professam, e dos quais se arvoraram em campeões”. [...]
 
Pertinácia dos “modernistas” para iludir as hostes católicas
São Pio X
Na França difunde-se a encíclica contra os erros do modernismo
Muito bem organizados do ponto de vista da propaganda, os modernistas se aliam no mundo inteiro, para o efeito de difundir melhor as suas doutrinas.
“Não se pode deixar de sentir estranheza e surpresa diante do valor que certos católicos lhe atribuem [à crítica modernista]. Para isto há duas causas: de um lado, a aliança estreita que fizeram entre si os historiadores e críticos da escola modernista, por cima de todas as diversidades de nacionalidade e de religião. De outro lado, a audácia sem limites desses mesmos homens: que um dentre eles abra seus lábios, e os outros aplaudirão a uma voz, elogiando o progresso que comunica à ciência; se alguém tem a infelicidade de criticar uma ou outra de suas novidades, por monstruosa que seja, em fileiras cerradas os modernistas investem contra ele; quem nega suas doutrinas é tratado de ignorante, quem as adota e defende é elevado às nuvens. Muitos que, iludidos com isto, se inclinam para os modernistas, recuariam de horror se o percebessem”.
Como tantas vezes acontece com os hereges, os modernistas têm um ardente espírito de proselitismo:
“Se, pelo menos, tivessem menos zelo e menos atividade em propagar seus erros! Mas tal é neste particular seu ardor, tal sua pertinácia no trabalho, que não se pode considerar sem tristeza como despendem, em arruinar a Igreja, energias magníficas que seriam tão aproveitáveis se fossem bem empregadas. Seus artifícios para iludir os espíritos são de duas maneiras: esforçar-se por afastar os obstáculos que lhes causam transtorno; depois procurar, com cuidado, pôr em movimento, ativa e pacientemente, tudo que lhes possa ser útil”.
“Os modernistas se apoderam das cátedras nos seminários, nas universidades, e as transformam em cátedras de pestilência. Disfarçadas talvez, suas doutrinas são semeadas por eles do alto dos púlpitos sagrados; professam-nas abertamente nos congressos; fazem-nas penetrar e as põem em voga nas instituições sociais. O fruto de tudo isto? Nosso coração se sente apertado ao ver absolutamente transviados tantos jovens que eram a esperança da Igreja, e que lhe prometiam tão bons serviços. Outro espetáculo ainda Nos contrista: é que tantos outros católicos, não indo certamente tão longe, entretanto têm tomado o hábito, como se tivessem respirado um ar contaminado, de pensar, de falar e de escrever com mais liberdade do que convém a católicos”.

Tentativa de enfraquecer a doutrina tradicional da Igreja
“Os modernistas se empenham em minimizar o Magistério eclesiástico e em lhe enfraquecer a autoridade, seja desnaturando sacrilegamente sua origem, seu caráter e seus direitos, seja reeditando contra ele, do modo mais livre do mundo, as calúnias dos adversários. Ao clã modernista se aplica o que Nosso Predecessor Leão XIII escrevia, com dor na alma: A fim de atrair o desprezo e o ódio sobre a Esposa mística de Cristo, na qual está a verdadeira luz, os filhos das trevas têm o hábito de lhe atirar, à vista dos povos, uma calúnia pérfida [...]. Depois disto, não há motivo para que alguém se espante se os modernistas perseguem com toda a sua malevolência, com toda a sua acrimônia, os católicos que lutam vigorosamente pela Igreja. Não há espécie de injúrias que não vomitem contra eles: a de serem ignorantes e obstinados é a preferida. Se se trata de adversário temível por sua erudição e vigor de espírito, os modernistas procuram reduzi-lo à impotência, organizando em torno dele a conspiração do silêncio. Conduta tanto mais censurável quanto ao mesmo tempo, sem fim nem medida, esmagam sob seus elogios quem se coloca de seu lado. Quando aparece um trabalho, desde que por todos os poros se deixe notar nele o desejo das novidades, os modernistas o acolhem com aplausos e exclamações de admiração. Quanto mais um autor tiver mostrado audácia em atacar o venerável edifício da Antiguidade, em solapar a tradição e o Magistério eclesiástico, tanto mais será tido por sábio”. [...]

Causa maior dano o erro que se infiltra no interior da Igreja
Com essas citações, concluímos a descrição do perfil moral do modernista e dos seus métodos de ação, segundo a Encíclica Pascendi. Por esta forma, rendemos ao imortal Pontífice Pio X nossa homenagem, cheia de gratidão pelos benefícios que prestou à Santa Igreja ferindo gravemente, com intrepidez angélica, este terrível inimigo da Religião Católica.
Nossa insistência a este respeito foi motivada por uma circunstância especial. Hoje em dia, para o comum dos fiéis, mesmo para os de alguma cultura religiosa, o erro só pode existir fora da Igreja. Em outros termos, o erro é adotado pelos que professam religiões falsas ou pelos que não professam nenhuma religião. Ele deve ser procurado e alvejado nas fileiras dos protestantes, dos espíritas, dos comunistas. Mas haveria perigo, haveria falta de caridade, haveria temeridade, em procurá-lo nas hostes católicas. Nestas, pelo contrário, só a verdade poderia florescer. E a ideia de procurar algum erro de doutrina em obras de escritores católicos poderia parecer, a esse público, singular, estranha, nascida de suspicácias infundadas e antipatias pessoais.
Na realidade, vimos como São Pio X nos mostra a existência, em seu tempo, de poderosa corrente de erros vicejando no próprio seio da Santa Igreja, e não apenas nas seitas heréticas ou cismáticas, ou entre os racionalistas. No tempo do Santo Papa, esta vasta coorte de católicos transviados estava intimamente ligada aos adversários externos da Religião, articulada de maneira a, protegida por uma falaciosa aparência de catolicidade, difundir o erro nas próprias fileiras católicas. Trabalho terrível de quinta coluna, que fazia com que o mal se apresentasse disfarçado sob o aspecto mais simpático e mais agradável. [...]
É esta uma constante dentro da vida da Igreja. Com efeito, não é raro que, aparecendo uma heresia, seus fautores procurem, quanto podem, tomar aparência de ortodoxos, permanecendo durante o maior tempo possível nas fileiras católicas para mais facilmente arrastar as almas. Em geral, é necessário um esforço terrível para que o erro seja apontado, caracterizado, reconhecido e expulso do redil. [...]
 
Pode-se confiar nos lobos ocultos sob peles de ovelhas?
Como se sabe, a corrente jansenista que se difundiu por toda a Europa nos séculos XVII e XVIII, e em certa medida no século XIX, era, em essência, um calvinismo disfarçado. Seus partidários, homens muitas vezes insignes por sua erudição, tendo apoios e simpatias entre altos dignitários eclesiásticos, dispondo do apoio também de chefes de Estado e de políticos eminentes, exímios na arte de esconder a peçonha dos erros sob a aparência de austeridade, de zelo e de talento, conseguiram perturbar durante séculos inteiros a vida da Cristandade. Ocultando suas doutrinas heréticas sob uma linguagem agradável, atraíram a simpatia de pessoas que teriam horror a qualquer espécie de heresia. Foi necessária uma luta terrível para extirpar da Santa Igreja esse veneno tremendo. E, em consequência dessa luta, se debilitaram as forças católicas, se aniquilaram energias que poderiam ter sido utilizadas com admirável eficácia no combate ao racionalismo. Mais ainda, os partidários da doutrina ortodoxa, muitas vezes desacreditados pelas calúnias jansenistas, ficaram na impossibilidade de prestar à Igreja todos os serviços que de outro modo lhe teriam podido prestar. [...]
Desta situação amarga participou a própria Santa Sé. Várias vezes os Romanos Pontífices denunciaram o erro. Mas sempre conseguiram os jansenistas, servidos por uma tática muito eficiente, fazer aceitar por numerosos fiéis a ideia de que essas condenações não passavam de atitudes políticas tomadas sob a deplorável pressão de conjunturas humanas, e não eram atos de magistério movidos pelo puro zelo da causa de Deus. O que explicava que muitas pessoas, duvidando dos verdadeiros Pastores da Igreja e deitando toda a sua confiança nos lobos ocultos sob peles de ovelhas, se deixassem persuadir de que as disposições da Santa Sé a respeito do jansenismo não deviam em consciência ser aceitas pelos católicos.
A divisão que o jansenismo causou entre os fiéis, a dispersão de esforços, a confusão, favoreceram na realidade a Revolução Francesa. Outra poderia ter sido a reação dos católicos do século XVII, e particularmente do século XVIII, se permanecessem unidos na verdadeira doutrina ortodoxa: teriam combatido de frente os erros monstruosos da Enciclopédia, que se prepararam, se enunciaram, e depois foram difundidos por toda a Europa. Tal não se deu. O enciclopedismo, encontrando nos próprios arraiais católicos o terreno preparado pelos desvios do jansenismo, se propagou livremente. E daí nasceu o terrível cataclismo que foi a Revolução Francesa.
Este aspecto do quadro ideológico e político do século XVIII merece particular atenção. Costumam os historiadores afirmar simplesmente que o enciclopedismo, servido por escritores eminentes, de grande talento, conseguiu conquistar a Europa. Seria o caso de perguntar por que esta conquista não encontrou reação, ou por que a reação oposta à conquista foi tão fraca, que praticamente não pôde evitar o mal. A debilidade dessa reação foi devida, em grande parte, à circunstância já apontada: a desordem imensa introduzida nas fileiras católicas pelo jansenismo, o prejuízo causado à vitalidade da Igreja pela difusão, em seu seio, de uma heresia tão perigosa.

Semelhança com a crise atual: erro dissimulado entre católicos
O modernismo foi condenado no início do século XX. A atualidade do exemplo histórico que
São Pio X
Canonização de São Pio X por Pio XII em 1954
acabamos de evocar, entretanto, ainda é grande.
Nos documentos pontifícios, não é raro encontrarmos alusões paternalmente tristes e severas a respeito de erros que circulam entre os fiéis. Esses erros podem renovar nas hostes católicas todos os inconvenientes que produziram no começo deste século, sob a forma do modernismo; ou anteriormente, sob a forma do jansenismo.
Nós mesmos nos encontramos também nas vésperas de um imenso cataclismo, a cuja iminência é inútil fechar os olhos. [...] Nessas condições, importa soberanamente que todos os católicos, atentos à grande voz e ao grande exemplo do Papa Pio X, que Pio XII elevou à honra dos altares para nos servir de intercessor e de luz, saibam orientar-se quanto ao dever da hora presente.
Este dever consiste, certamente, em combater os inimigos externos da Igreja com todo o zelo e com todo o afã. Mas ele não para aí. Também consiste em ter os olhos voltados para os problemas internos da Santa Igreja de Deus, com a convicção de que eles podem constituir embaraço dos maiores; e com uma franca compreensão para com aqueles que, de modo todo particular, se dedicam à análise e à solução desses problemas.
 
Combater o erro que possa serpear dentro do redil católico
Quantas e quantas vezes, ao percorrerem as várias edições desta folha, leitores houve que fizeram a pergunta: por que combater erros existentes entre fiéis, quando há tantos outros a serem combatidos fora das fileiras católicas, mais claros, e portanto mais perigosos? A esta pergunta tão frequente, a Encíclica Pascendi oferece magnífica resposta: o erro interno é sempre mais perigoso que o erro externo, a divisão das forças é sempre mais perigosa que qualquer adversário. E para fazer cessar a divisão das forças, o essencial é que todos lutem em torno de uma só bandeira. O essencial é que tenham todos a mesma doutrina. O essencial é que a circulação sub-reptícia do erro não divida os espíritos, não divida os corações, não divida as energias.
O modo verdadeiro de realizar a união entre os católicos não consiste em calar diante do erro que possa serpear dentro do redil. A tática acertada consiste em combater de frente tal erro, para que, unidos todos os católicos em torno de um mesmo ideal, sob a autoridade suprema e amorosa do Romano Pontífice, guiados pelos seus bispos e legítimos pastores, possam manter acesa e finalmente vitoriosa a grande luta pelo triunfo da Igreja, da civilização cristã, contra o materialismo, o panteísmo, a irreligião, o socialismo, o comunismo e todas as formas da Revolução.
 
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(*) Os trechos transcritos dos mencionados artigos de Catolicismo sofreram apenas pequenas adaptações. Os entretítulos são desta Redação e as frases entre aspas foram extraídas da própria Encíclica Pascendi, publicada em francês no volume III dos Atos de Pio X, edição Bonne Presse, Paris.

Fonte: Catolicismo, Agosto de 2014.

domingo, 31 de agosto de 2014

Centenário de falecimento do Papa São Pio X — PARTE I


Revista Catolicismo, Nº 764 (agosto/2014)

 
São Pio X no início de seu pontificado em 1903
São Pio X no início de seu pontificado em 1903
O glorioso Pontífice da Sagrada Eucaristia, do Catecismo,
do Direito canônico e do Canto gregoriano, que combateu destemidamente a heresia modernista

Por ocasião dos 100 anos do falecimento de São Pio X, Catolicismo dedica ao imortal Pontífice a matéria principal desta edição, reproduzindo a seu respeito textos da lavra de Plinio Corrêa de Oliveira, inspirador e durante várias décadas principal colaborador de nossa revista.
Prestamos assim um preito de gratidão ao Sumo Pontífice que agiu em tudo conforme seu admirável lema Restaurar todas as coisas em Cristo, e cujo centenário deveria ser recordado pelos católicos do mundo inteiro.
Falecido em 20 de agosto de 1914, o 259º sucessor de São Pedro foi solenemente elevado à glória dos altares pelo Papa Pio XII em 1954.
São Pio X exerceu seu pontificado de 1903 a 1914 — até o ano, portanto, da Primeira Guerra Mundial —, numa época fortemente contagiada pelo liberalismo anticlerical e, por isso mesmo, de muitos combates desse Vigário de Cristo contra os inimigos externos e internos da Igreja.
Dentre estes últimos destaca-se o movimento modernista, precursor do progressismo católico de nossos dias, que visava adaptar a Igreja ao espírito e aos erros do mundo moderno, infectar com tais desvios os ambientes sagrados, e levar os católicos a acomodarem-se a esses erros.
Mesmo em meio a tão árduas lutas, São Pio X fortaleceu extraordinariamente a Santa Igreja e incrementou de modo vigoroso a piedade católica.
Quando assistimos perplexos às calamidades de nossa época, tão semelhantes às enfrentadas pelo insigne Pontífice, voltemos para ele nossos olhares, pois além de ser especial intercessor junto a Deus, constitui para nós o melhor exemplo e incentivo para resistir sempre no bom combate dos presentes dias. É o que passaremos a expor por meio dos textos que a seguir transcrevemos.

A Direção de Catolicismo
 
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Significação essencial de um grande pontificado

A vida de São Pio X foi uma preparação providencial para assumir a Cátedra de São Pedro. Vigário de Riese, cônego em Treviso, bispo de Mântua, Patriarca de Veneza, na Itália, conheceu ele o ministério das almas nos seus vários níveis e aspectos. Assim, adquiriu uma visão de conjunto sumamente adequada para quem exerceria a direção suprema de todos os Pastores e de todos os rebanhos.

Plinio Corrêa de Oliveira
Catolicismo, nº 47 — novembro de 1954

Padre José Sarto, recém ordenado sacerdote, 1858
Padre José Sarto, recém ordenado sacerdote, 1858
De há muito se faz sentir no público brasileiro a necessidade de uma apresentação da figura de São Pio X em todos os seus aspectos, e numa perspectiva de conjunto que ponha em evidência a mútua conexão, a devida hierarquia de natureza e fins, e a harmoniosa unidade que entre esses aspectos existe.
Até certo ponto, na retina mental do povo, há “vários” Pio X. Alguns vêm nele tão somente o taumaturgo com as cãs nimbadas por uma auréola de santidade, a distribuir bênçãos milagrosas nas nobres galerias do Vaticano. Outros, ancião cheio de doçura, absorto inteiramente no aprimoramento da instrução catequética e da piedade eucarística das crianças. Os artistas consideram nele exclusivamente o restaurador da música sacra. Certas pessoas piedosas tanto se impressionam com sua vida interior que o imaginam como uma alma unicamente contemplativa, tanto mais que, fora da Itália, seu apostolado pessoal intenso perdeu-se algum tanto na memória das massas. As pessoas mais particularmente chamadas para a luta tendem por vezes a não considerar em Pio X senão o Anjo de espada de fogo, que infligiu ao modernismo a maior derrota que este até hoje sofreu, e opôs um dique vitorioso à arremetida anticlerical na França.
Ora, a maior glória de São Pio X não está em ter sido o Anjo da Guarda da humanidade de seu tempo ou o taumaturgo admirável do Vaticano, ou o Papa da Eucaristia, etc., mas em ter sido tudo isto a um tempo, de modo eminente, realizando em sua pessoa e em sua obra uma variedade de aspectos desconcertante por sua riqueza e contudo sumamente harmoniosa. A consideração detida deste ponto dá-nos o conhecimento exato de quem foi Pio X, e abre vistas para uma noção equilibrada e altamente proveitosa do que seja a santidade, e a própria missão da Igreja.

As grandes linhas biográficas
O futuro Pio X nasceu em de junho de 1835, de pais muito pobres, João Batista Sarto e Margarida Sanson, num lugarejo insignificante denominado Riese, antiga Marca de Treviso (Itália). No dia imediato, foi batizado com o nome de José. Crismado aos 10 anos, foi admitido à Sagrada Comunhão aos 12. Em 1850, entrou no seminário de Pádua, onde foi recebendo sucessivamente as Ordens menores e maiores até 1858, ano em que recebeu o Presbiterato. Nomeado logo depois capelão de Tombolo e em 1867 pároco de Salzano, foi promovido a cônego de Treviso em 1875, acumulando estas funções com as de chanceler da diocese e diretor espiritual do seminário. Em 1884, aos 49 anos pois, foi eleito bispo de Mântua, e nessa sede recebeu em 1893 o cardinalato como prêmio de seus altos méritos. No mesmo ano, viu-se elevado a Patriarca de Veneza. Em 1903, o Conclave reunido para a escolha do sucessor de Leão XIII o elegeu para o Sumo Pontificado. José Sarto tomou então o nome de Pio X. Tinha 68 anos e governou a Igreja até sua morte, ocorrida aos 79 anos, em 20 de agosto de 1914.
Como se vê, foi uma carreira brilhante, que levou José Sarto, por todos os degraus intermediários, da pobre vivenda de Riese aos esplendores do Vaticano.
Esta carreira lhe deu ocasião de exercer o múnus sacerdotal nas mais variadas situações, vendo os problemas de apostolado em todas as perspectivas, tomando contato com eles em todos os níveis da cura de almas, desde coadjutor de aldeia a Pontífice Romano, e passando por funções delicadas, não só como a de chanceler de bispado, mas ainda como a de diretor espiritual de seminário, delicada dentre as mais delicadas.
É, como se vê, uma incomparável preparação para o Papado.

O sentido profundo de uma vida
Confrontando-se na obra do Padre Dal Gal, as atividades do santo em cada uma destas etapas, nota-
Padre José Sarto, recém ordenado sacerdote, 1858
Bispo de Mântua, 18885
se que são substancialmente as mesmas da etapa anterior, transpostas apenas para campo mais vasto. Dir-se-ia uma mesma melodia executada com força e harmonia crescentes, até cobrir com seus acordes toda a superfície da Terra. As notas desta melodia espiritual — isto é, os mais altos conceitos sobre a Igreja, a ação da Providência no governo das almas e na direção dos acontecimentos terrenos, a santidade sacerdotal, a difusão do bem e a repressão do mal como aspectos do grande prélio da Igreja militante — em essência não são muitas. Seu valor vem da incomparável beleza de cada uma, da harmonia que reina entre todas. A verdadeira música não se faz com muitos sons de mero efeito, mas com o desenvolvimento de melodias simples, harmônicas, belas.
Poderíamos talvez enunciar assim as linhas mestras que nos foi dado notar na obra fecunda do grande Papa:
Chegada do novo Patriarca de Veneza em 24-11-1894
Chegada do novo Patriarca de Veneza em 24-11-1894
Por sua própria razão de ser, o sacerdote ou o bispo, quer na sua vida pessoal, quer no exercício do seu ministério, deve estar intimamente unido a Nosso Senhor Jesus Cristo e ocupado em Lhe fazer a vontade irrestritamente, incondicionalmente, sem pusilanimidade nem meios termos. Portanto, oração, meditação, mortificação, antes de tudo. Mutatis mutandis, o mesmo se deve dizer dos religiosos, e dos apóstolos que nas fileiras do laicato auxiliam a Sagrada Hierarquia. De onde deve merecer lugar primordial tudo quanto se refere ao afervoramento da piedade, quer entre os fiéis, quer entre religiosos e sacerdotes.
A Sagrada Eucaristia e Nossa Senhora sendo respectivamente fonte e canal das graças necessárias para tal, é da mais alta importância incentivar e desenvolver a devoção que Lhes têm os fiéis. O culto público da Igreja, celebrado com gravidade e decoro é meio indispensável e muito eficaz para a santificação das almas. Convém pois interessar nele os fiéis, para o que é muito importante o incentivo da boa música sacra, e a eliminação das músicas profanas, teatrais, indecorosas, que infelizmente haviam invadido o santuário.
A formação piedosa não pode deixar de se basear sobre uma instrução religiosa séria, embora
Chegada do novo Patriarca de Veneza em 24-11-1894
Chapéu cardinalício de São Pio X
proporcionada ao grau de cultura de cada fiel. Todas as formas de alta instrução religiosa — estudos de filosofia escolástica, investigações históricas e bíblicas profundas, etc. — são de se aplaudir e desenvolver. Mas devem pressupor o conhecimento exato do catecismo, sem o que todo o edifício cultural católico carece de base. Ademais, sem o conhecimento do catecismo, todo o apostolado e toda a apologética são vãos. Como propagar uma verdade que não se conhece? E como atacar o erro, quando se ignora a verdade? De onde ampla, amplíssima divulgação catequética para crianças e também para adultos.
Com a piedade, a instrução religiosa e a mortificação reinando em seus muros, com membros inteiramente dóceis ao Papa — docilidade que é a pedra de toque de toda formação verdadeira — as falanges católicas, trilhando sempre as vias da perfeição que são as vias da Providência, podem contar com o apoio de Deus. E por isto devem atirar-se animosamente — cada qual segundo sua vocação — às fainas do apostolado. Por entre borrascas, abismos e aparentes desastres talvez, Deus as conduzirá à vitória.
Este apostolado há de ser inteligente e heroico. Inteligente, há de supor em seus planos um conhecimento minucioso da época e do lugar em que atua, um emprego refletido e ágil dos métodos de ação adequados às circunstâncias, grande envergadura e até certo arrojo no formar os desígnios, muita prudência nos meios, penetração religiosa profunda em todos os setores e classes da sociedade. Heroica, há de acarretar a renúncia a todas as vantagens pessoais, e implicará no destemor em face de todas as inimizades e de todos os riscos.
A esmola é um dos graves deveres dos católicos.
O zelo do apóstolo não pode estar alheio à esfera da política, para proteger os direitos da Igreja. Assim, sempre que haja questões de ordem religiosa ou moral a tratar na política, os católicos ali devem estar, unidos e disciplinados.
Para que a atividade da Igreja seja livre de tropeços interiores, cumpre que suas leis, sabiamente proporcionadas às necessidades dos tempos, sejam conhecidas, amadas e obedecidas por todos.
A ação pessoal do apóstolo sobre as pessoas com quem tem contato é do maior proveito. Em São Pio X sua eficácia atingiu frequentemente as raias do milagroso. Tal eficácia, aliás, não resulta de se velar a verdadeira doutrina, nem das concessões impossíveis, mas da atração da verdade, do bem e da graça.
O combate ao erro e ao mal não compendia em si toda a atividade da Igreja, como a clínica e a cirurgia não são os únicos cuidados que devemos a nosso corpo. Melhor é evitar as doenças por uma vida metódica e sã. Mas quando a doença apesar de tudo se manifesta, cumpre enfrentá-la por todos os modos. Assim, melhor é prevenir o aparecimento do erro e do mal, pregando a verdade, aproximando as almas dos sacramentos, fazendo-as amar a virtude e a mortificação, do que reprimir os desatinos em que por nosso triste descuido possam cair. Mas se o erro e o mal se mostrarem persistentes é preciso agir contra eles. São Pio X deu todos os exemplos da admirável bondade e da energia com que neste combate se deve lutar.
É interessante analisar a continuidade da obra grandiosa de São Pio X em cada cargo que ocupou, à luz destes princípios em que se enfeixam — pelo menos de modo geral — os seus meios para a realização de seu lema admirável: Instaurare omnia in Christo (Restaurar todas as coisas em Cristo).
 
Importância que São Pio X deu ao catecismo
São Pio X
Audiência no Pátio de São Dâmaso, 1903
Este ponto merece no Brasil relevo especial, pois precisamos de catecismo em todos os graus. Muito tem sido feito, mas muito ainda há que fazer para o desenvolvimento catequético primário. Não menos importante talvez é o desenvolvimento do ensino da Religião no curso secundário. Mas isto não basta. Precisamos trabalhar por que se dissipe o triste preconceito de que o catecismo é apenas para crianças. Nenhum católico de nível cultural universitário pode sentir-se em dia com sua consciência, se não tiver uma formação catequética correspondente.
José Sarto foi o aluno mais vivo e esforçado do curso de catecismo que seguiu em sua Paróquia natal. Com a vivacidade que conservou até os últimos dias, seguia as explicações do pároco, ao qual dava respostas por vezes surpreendentes. “Darei uma maçã a quem me diga onde está Deus”, disse certa vez o zeloso sacerdote. E o pequeno José lhe respondeu ato contínuo: “Pois eu lhe darei duas maçãs se me disser onde Deus não está”. Nasceu nos bancos do catecismo seu ardente interesse pela doutrina sagrada, elemento essencial de toda vocação sacerdotal séria.
Concluídos seus estudos de seminário, seu espírito estava definitivamente aberto para a importância do ensino da Religião. Assim, como pároco de Salzano, lecionava pessoalmente o catecismo ao povo, convidando para ele os paroquianos, e explicando-lhes todos os males que decorrem da ignorância religiosa. “Conjuro-vos a que venhais ao catecismo”, dizia. E acrescentava: “antes faltar às Vésperas, do que faltar ao catecismo”.
Seu ensino era sério, fundo, meticuloso, mas muito interessante. Explicava a doutrina “com muita vitalidade e grande calor”. Inaugurou o método de dialogar o catecismo com um jovem sacerdote da Paróquia vizinha, o que atraia para suas aulas pessoas de toda a redondeza.
Como Cônego em Treviso, sobrecarregado de afazeres na chancelaria da cúria diocesana, e
São Pio X
O Pontífice no pavilhão de Pio IV
responsável pela direção espiritual de mais de 200 seminaristas, ainda achava meio de ensinar catecismo aos alunos do colégio episcopal.
À testa da diocese de Mântua, uma de suas maiores preocupações foi o ensino do catecismo. Era tema frequente de suas exortações ao clero ou aos fiéis. Estendeu-se particularmente sobre o modo e ocasião de ministrar a doutrina católica em sua Pastoral de 1885, ordenando que em todas as Paróquias se instituísse a Escola da Doutrina Cristã, mandando outrossim que o pároco ensinasse o catecismo ao povo nos domingos e dias de preceito, e diariamente para as crianças na quaresma e advento. E, acompanhando estas judiciosas medidas de ação positiva com algumas severas penas, segundo seu sábio costume, proibia que os confessores dessem absolvição às pessoas que impedissem seus filhos, ou criados, de comparecer às aulas de instrução religiosa sem justa causa.
A fim de estimular os párocos neste apostolado, comparecia ora nesta, ora naquela Paróquia, inesperadamente, certificando-se sobre se a aula estava sendo dada, e assistindo-a para se inteirar da capacidade do sacerdote.
Não haviam transcorrido dois meses de sua trasladação para Veneza, e já o novo Patriarca dirigia a seus diocesanos uma Pastoral em que falava largamente do catecismo e exclamava: “Acontece com frequência que pessoas instruídas nas ciências profanas ignoram totalmente ou conhecem mal as verdades da Fé, e conhecem menos o catecismo do que as crianças mais simples. Pense-se no bem das almas, que se tem em mira. O povo está sedento de verdade. Dê-se-lhe o necessário para a salvação de sua alma, e então, comovido e emocionado, chorará seus erros e se aproximará dos sacramentos divinos”.
Reorganizou ele imediatamente as escolas de catecismo paroquiais, ordenou aos párocos uma explicação mais assídua e sistemática da doutrina católica, promoveu com todas as suas forças a formação de melhores catequistas, e introduziu o ensino da Religião nas escolas municipais. Como em Mântua, aparecia ora numa igreja ora noutra, para observar como se ministravam as lições.
Como Papa, São Pio X deu ao orbe católico um exemplo magnífico, ensinando durante oito anos, pessoalmente, o catecismo ao povo romano no pátio de São Dâmaso, onde até hoje se assinala o ponto em que falava. Pode-se imaginar quão eficiente foi o incentivo deste exemplo, para dar impulso aos esforços catequéticos no mundo inteiro. Mas São Pio X não se contentou com isto. Na Encíclica Acerbo Nimis, de 15 de abril de 1905, mostrou em palavras pungentes o estado de ignorância religiosa em que se encontravam tantos fiéis: “É difícil descrever quanto são densas as trevas que envolveram inúmeros homens que se supõem cristãos e nesta crença vivem tranquilos. Neles não há o menor pensamento para Deus. Os mistérios da Encarnação do Verbo de Deus e da Redenção do gênero humano realizada por Jesus Cristo são coisas desconhecidas para eles. Nada sabem sobre o Sacrifício da Missa, nem os sacramentos pelos quais se adquire e conserva a graça de Deus, e não avaliam quanta malícia existe no pecado mortal. Por isto não se esforçam por evitá-lo nem deplorá-lo, e só se inteiram de algo quando estão chegando ao fim de sua vida”.
Depois de mostrar que a instrução religiosa é meio indispensável para o pleno aproveitamento dos frutos do Batismo, dispõe medidas para o incremento do ensino religioso em todo o orbe católico. Estas medidas, fruto de uma longa experiência, são em sua substância as mesmas já postas em vigor em Mântua e Veneza. O Santo Pontífice determinou nesse documento que também nas Universidades se estabelecessem “Escolas de Religião destinadas a promover o ensino das verdades da Fé e a formação da vida cristã”. O efeito desta Encíclica foi mundial. A preparação de catequistas leigos para suprir as deficiências do clero se desenvolveu imensamente, os congressos catequéticos, os concursos, os prêmios se multiplicaram. Os estudos sobre metodologia catequética floresceram. Foi uma aurora em toda a Igreja.
O ensino do catecismo, São Pio X não o concebia como coisa inerte, fria, puramente informativa. Desejava ele que fosse feito de maneira a acender o amor pela nossa santa Fé, e o zelo pela Lei de Deus. O seu empenho neste particular melhor se compreende estudando o modo de pregar de São Pio X.
Fonte: Catolicismo, Agosto de 2014.

sábado, 30 de agosto de 2014

SÃO PIO X — 1914 / 2014


Paulo Corrêa de Brito Filho

 
SÃO PIO X — 1914 / 2014         Comemora-se neste mês o centenário da morte do Papa São Pio X, canonizado por Pio XII em 1954. A revista Catolicismo (*), que ao longo de sua história sempre exaltou a figura e a obra daquele imortal Pontífice, não poderia deixar de fazê-lo nesta magna data, relembrando sua extraordinária estatura moral, que marcou profundamente o mundo e continua a marcá-lo até os presentes dias.
Para esse efeito a matéria de capa da edição deste mês reproduz textos selecionados do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — inspirador e principal articulista de Catolicismo até seu falecimento em 1995 — sobre aquele santo varão, cujo pontificado (1904-1914) representa grande glória para a História da Igreja.
Na primeira parte, o leitor encontrará uma admirável síntese biográfica e o sentido profundo da obra do homenageado, ressaltando seu empenho em promover a devoção eucarística e o culto litúrgico, a instrução religiosa e catequética, bem como em defender os direitos da Igreja na esfera pública. É ressaltada também a benéfica ação sobrenatural exercida por São Pio X sobre aqueles que dele se aproximavam.
A segunda parte da matéria é dedicada a descrever a doutrina e os métodos empregados pela heresia modernista, condenada energicamente pelo santo Pontífice depois de baldados seus ingentes esforços para converter os líderes dessa corrente à ortodoxia católica.
Mediante a fulgurante Encíclica Pascendi dominici gregis, promulgada em 1907, São Pio X denunciou os fautores da conspiração modernista, que tentavam adulterar o Magistério tradicional da Santa Igreja e cujos erros disseminavam nos próprios ambientes da cidadela católica.
Ele desmascarou assim os fautores dos erros, denunciou suas táticas, revelou a extensão da conspiração, e estigmatizou a doutrina modernista como sendo a “síntese de todas as heresias”.
Infelizmente, com grande pertinácia, os modernistas rejeitaram submeter-se à autoridade da Igreja. O Papa então, para defender a Igreja e os fiéis, sentiu-se obrigado a condenar nominalmente os principais chefes do movimento.
A matéria reproduz também alguns trechos da Pascendi, os quais, além de apresentar aspectos da doutrina modernista, põem em evidência o péssimo estado de espírito dos hereges; e se detêm na explanação de sua tática de proselitismo, especialmente a dissimulação.
Nos dias de hoje, os católicos desejosos de se manterem fiéis à doutrina sempiterna da Igreja enfrentam um inimigo tão virulento e ardiloso como o modernismo: o progressismo católico, que apresenta claramente desvios modernistas adaptados às circunstâncias atuais. Assim sendo, devemos pedir instantemente ao glorioso Papa São Pio X que nos conceda sua firmeza doutrinária, sua energia e providencial perspicácia para discernir e rejeitar a investida do progressismo dito católico.
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(*) http://www.catolicismo.com.br/

Fonte: Catolicismo, Agosto de 2014

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Chamado ao Heroísmo!


Luís Felipe Escocard
                                

Ficar conectado a redes sociais, jogos e quinquilharias eletrônicos, sem falar de drogas e imoralidade, aparentemente são os grandes chamarizes para os adolescentes de nossos dias.
                                
Entretanto, não é bem assim. Por exemplo, 37 jovens resolveram dar as costas a essas tentações e participaram de mais um acampamento da Ação Jovem pela Terra de Santa Cruz, o oposto de tudo isso, com sua convocação para o heroísmo e a virtude.
Foi o que se passou entre os dias 18 e 21 de junho em Brasília. Houve 10 palestras, cinco para cada turma. Os mais novos conheceram os esplendores da Idade Média e uma síntese da obra Revolução e Contra-Revolução. Os efeitos nocivos do igualitarismo foi o tema para as reuniões da segunda turma, baseadas nos ensinamentos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Pequenas peças teatrais ilustraram os temas.
Como entretenimento, além das competições e passeios, o que mais chamou a atenção dos jovens foram os jogos medievais, realizados à noite, sob a luz de inúmeras tochas e animados por trompetes, tambores e pífaros. Lança ao alvo, corrida de fogo e jogo da maça foram alguns dos desafios.

                                

“Foi sem dúvida o melhor acampamento de que participei”— declarou um dos rapazes. De fato, percebia-se o entusiasmo que uma programação inteligentemente baseada na doutrina católica tradicional suscita nas almas de jovens, que nunca tinham imaginado que algo assim pudesse existir. No meio do acampamento, se alguém perguntasse se não prefeririam estar jogando GTA, ou “postando” algo no Facebook ou no Twitter, ou ainda assistindo alguma novela na televisão, certamente seria alvo de risada ou de um bom e merecido debique...