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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Universidade Brasileira e o Sistema de Cotas


Leo Daniele

Os exames vestibulares terão uma novidade, a partir do fim deste ano e início do próximo: serão aplicadas as cotas raciais e sociais, já aprovadas. As universidades e escolas técnicas federais serão obrigadas a reservar metade de suas vagas a candidatos que cursaram o ensino médio na rede publica. Desta metade, 50% serão destinadas a alunos cuja renda familiar não ultrapassar l,5 do salário mínimo. Terão prioridade os estudantes autodeclarados negros, pardos ou indígenas. Que pensar deste affaire?

O assunto pode ser examinado debaixo de dois ângulos principais: 1. o bem das classes menos favorecidas; 2. o bem comum de todo o País.

Vejamos primeiramente se as cotas vão realmente ajudar os estudantes mais pobres.

1. As cotas são uma das metas do Movimento dos Sem Universidade (MSU), congênere dos sem terra e dos sem teto, com boné e tudo o mais. O MSU é menos conhecido — por enquanto — que seus congêneres.

O MSU, como os outros “sem”, é uma criatura da esquerda católica, e ela o reconhece como tal. Surgiu “da organização dos Cursinhos Populares, do ativismo social da Pastoral da Juventude do Meio Popular e da Pastoral da Juventude”. O nome foi sugerido por Dom Pedro Casaldáliga, bispo aposentado da extrema esquerda católica e patrono dos sem-terra.[1]

Aparentemente, existiria para auxiliar os negros e as classes menos favorecidas. Será mesmo?
Liu-Chao-Chi, Secretário do Partido Comunista Chinês e autor do livro “Para ser bom comunista”, diz que ajudar os menos favorecidos “é um ideal de filantropos, não de marxistas”. Ou seja, os marxistas só se interessam pelas classes inferiores como massa de manobra política, como ferramenta de luta, como “bucha para canhão”. E Henri Lefèbvre, um dos mais conhecidos teóricos do marxismo, afirma: “O marxismo não alimenta um humanismo sentimental e choramingão. [...] O marxismo não se interessa pelo proletariado enquanto fraco, mas enquanto ele é uma força”.[2]

O golpe é velho: procura-se açular alguém a quem falta alguma coisa contra os que a possuem, manipulando duas reprováveis tendências da natureza humana decaída: a ambição e a inveja. Visando o que? Em última análise, o igualitarismo. A compaixão pelos menos favorecidos é excluída.

Quem entrou em alguma universidade por causa das cotas, sem estar qualificado, pode ter problemas depois. Se não desistir durante o curso, terá de enfrentar em desvantagem a concorrência no mercado de trabalho. Terá de pagar seu preço por ter querido fugir da realidade. Uma pergunta: será que em futuro próximo vão estabelecer cotas também para o mercado de trabalho? É uma pergunta lógica.

Os campeões da igualdade e da “inclusão” social, em sua paixão destemperada, nada mais fazem que humilhar a simpática raça negra, a que tanto deve o Brasil.

Claudimara Cristina Carvalho afirma: “Sou negra, e entrei para a faculdade sem precisar de cotas. Aliás, na faculdade em que prestei, não há diferença para negros. Se o não-negro dispensa cotas para entrar na faculdade, por que nós negros precisamos?”

A estudante Luana Miranda, de 19 anos, se prepara para o vestibular no Cursinho da Poli. Negra, apesar de ser beneficiada pela lei, ela é contra as cotas raciais. “Os negros ainda sofre preconceito, a elite brasileira é branca. Mas isso não justifica as cotas. Não é a cor de pele que diz as dificuldades pelas quais você passou”, diz ela.

No fundo, a reserva de cotas para negros recende a racismo. É o pensamento do negro Ingo da Silva, que diz: “Todos os negros devem rejeitar isso, porque mais parece esmola. [...] Vão dizer: ‘Está cursando porque deram uma mãozinha’”.

Essa movimentação a favor das cotas ‒ de fato, cotas privilegiantes de alguns, que põem de lado os méritos de outros ‒ está fazendo como alguém que, para não ter febre, quebra o termômetro. Escamoteia o medidor do nível de preparo, que é o vestibular. A exemplo de seus similares sem-terra e sem-teto, com o sistema de cotas se cria uma nova categoria de “invasores”: os sem-universidade. Ao que parece, a esquerda não consegue principiar nada sem algum tipo de invasão, legal ou não.

Ninguém é contra que um “sem-universidade” se torne um “com-diploma”, desde que o faça adequada e ordenadamente. Não por meio da bolorenta “luta de classes”, e sim através de um aperfeiçoamento do ensino fundamental.

2. O ponto de vista do bem comum

A meta geral das universidades é a competência e isso é uma das muitas coisas de que o Brasil precisa. Por que este privilégio das cotas, que desafia o bom senso, favorecerá a competência no caso das universidades? A medicina brasileira terá o grau de acerto aumentado? Onde ficará a segurança jurídica? Que garantia teremos da solidez dos edifícios? Aonde iremos parar?

Pete Du Pont argumenta com acerto: “Se nossa política é falsificar a medição das habilidades em lugar de melhorar as aptidões dos menos hábeis, então nos enganamos a nós mesmos e pomos em risco nossa sociedade”.[3]

Não é lógico adotar o assistencialismo como critério de seleção, quando se visa à competência, pois a fuga da realidade geralmente não produz bons resultados. Ou não se visa a competência? Aviltando a nobreza dos centros de excelência que devem ser as universidades brasileiras, o anteprojeto quer impor o reprovável figurino ideológico do nivelamento e da despersonalização.

Diz Dr. Plinio que “o bem comum visa todos os membros da sociedade e do Estado, como o bem comum do organismo inclui o de todas as células. E assim como o corpo todo é solidário para a preservação de qualquer célula, e se move para proteger as mais necessitadas, o Estado e a sociedade devem ter um empenho efetivo em proporcionar a cada membro as condições normais de existência e aperfeiçoamento.[4]

Isto não se faz com cotas raciais e sociais, mas com o bom senso próprio de uma civilização cristã.


[1] Site do MSU ‒ www.msu.org.br ‒ acessado em 8-3-05.
[2] Henri Lefèbvre, Le marxisme. Presses Universitaires Françaises, 21ª ed., Paris, p. 56.
[3] Colorblindness Is Golden – Will Californians vote to join the human race? American Civil Rights Coalition.
[4] Plinio Corrêa de Oliveira et al, “Reforma Agrária – Questão de Consciência”, ed. do cinquentenário, p. 185. Arpress, São Paulo, 2010.

Fonte: IPCO, Agosto de 2012.

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