Leo Daniele
Os exames
vestibulares terão uma novidade, a partir do fim deste ano e início do próximo:
serão aplicadas as cotas raciais e sociais, já aprovadas. As universidades e
escolas técnicas federais serão obrigadas a reservar metade de suas vagas a
candidatos que cursaram o ensino médio na rede publica. Desta metade, 50% serão
destinadas a alunos cuja renda familiar não ultrapassar l,5 do salário mínimo.
Terão prioridade os estudantes autodeclarados negros, pardos ou indígenas. Que
pensar deste affaire?
O assunto pode ser
examinado debaixo de dois ângulos principais: 1. o bem das classes menos
favorecidas; 2. o bem comum de todo o País.
Vejamos
primeiramente se as cotas vão realmente ajudar os estudantes mais pobres.
1. As cotas são uma
das metas do Movimento dos Sem Universidade (MSU), congênere dos sem
terra e dos sem teto, com boné e tudo o mais. O MSU é menos conhecido — por
enquanto — que seus congêneres.
O MSU, como os
outros “sem”, é uma criatura da esquerda católica, e ela o reconhece como tal.
Surgiu “da organização dos Cursinhos Populares, do ativismo social da Pastoral
da Juventude do Meio Popular e da Pastoral da Juventude”. O nome foi sugerido
por Dom Pedro Casaldáliga, bispo aposentado da extrema esquerda católica
e patrono dos sem-terra.[1]
Aparentemente,
existiria para auxiliar os negros e as classes menos favorecidas. Será mesmo?
Liu-Chao-Chi, Secretário do Partido Comunista Chinês e autor do livro “Para ser bom comunista”, diz que ajudar os menos favorecidos “é um ideal de filantropos, não de marxistas”. Ou seja, os marxistas só se interessam pelas classes inferiores como massa de manobra política, como ferramenta de luta, como “bucha para canhão”. E Henri Lefèbvre, um dos mais conhecidos teóricos do marxismo, afirma: “O marxismo não alimenta um humanismo sentimental e choramingão. [...] O marxismo não se interessa pelo proletariado enquanto fraco, mas enquanto ele é uma força”.[2]
Liu-Chao-Chi, Secretário do Partido Comunista Chinês e autor do livro “Para ser bom comunista”, diz que ajudar os menos favorecidos “é um ideal de filantropos, não de marxistas”. Ou seja, os marxistas só se interessam pelas classes inferiores como massa de manobra política, como ferramenta de luta, como “bucha para canhão”. E Henri Lefèbvre, um dos mais conhecidos teóricos do marxismo, afirma: “O marxismo não alimenta um humanismo sentimental e choramingão. [...] O marxismo não se interessa pelo proletariado enquanto fraco, mas enquanto ele é uma força”.[2]
O golpe é velho:
procura-se açular alguém a quem falta alguma coisa contra os que a possuem,
manipulando duas reprováveis tendências da natureza humana decaída: a ambição e
a inveja. Visando o que? Em última análise, o igualitarismo. A compaixão pelos
menos favorecidos é excluída.
Quem entrou em
alguma universidade por causa das cotas, sem estar qualificado, pode ter
problemas depois. Se não desistir durante o curso, terá de enfrentar em
desvantagem a concorrência no mercado de trabalho. Terá de pagar seu preço por
ter querido fugir da realidade. Uma pergunta: será que em futuro próximo vão
estabelecer cotas também para o mercado de trabalho? É uma pergunta lógica.
Os campeões da
igualdade e da “inclusão” social, em sua paixão destemperada, nada mais fazem
que humilhar a simpática raça negra, a que tanto deve o Brasil.
Claudimara Cristina
Carvalho afirma: “Sou negra, e entrei para a faculdade sem precisar de
cotas. Aliás, na faculdade em que prestei, não há diferença para negros. Se o
não-negro dispensa cotas para entrar na faculdade, por que nós negros
precisamos?”
A estudante Luana
Miranda, de 19 anos, se prepara para o vestibular no Cursinho da Poli. Negra,
apesar de ser beneficiada pela lei, ela é contra as cotas raciais. “Os negros
ainda sofre preconceito, a elite brasileira é branca. Mas isso não justifica as
cotas. Não é a cor de pele que diz as dificuldades pelas quais você passou”,
diz ela.
No fundo, a reserva
de cotas para negros recende a racismo. É o pensamento do negro Ingo da Silva,
que diz: “Todos os negros devem rejeitar isso, porque mais parece esmola.
[...] Vão dizer: ‘Está cursando porque deram uma mãozinha’”.
Essa movimentação a
favor das cotas ‒ de fato, cotas privilegiantes de alguns, que põem de lado
os méritos de outros ‒ está fazendo como alguém que, para não ter febre,
quebra o termômetro. Escamoteia o medidor do nível de preparo, que é o
vestibular. A exemplo de seus similares sem-terra e sem-teto, com o sistema de
cotas se cria uma nova categoria de “invasores”: os sem-universidade. Ao que
parece, a esquerda não consegue principiar nada sem algum tipo de invasão,
legal ou não.
Ninguém é contra
que um “sem-universidade” se torne um “com-diploma”, desde que o faça adequada
e ordenadamente. Não por meio da bolorenta “luta de classes”, e sim através de
um aperfeiçoamento do ensino fundamental.
2. O ponto de
vista do bem comum
A meta geral das
universidades é a competência e isso é uma das muitas coisas de
que o Brasil precisa. Por que este privilégio das cotas, que desafia o bom
senso, favorecerá a competência no caso das universidades? A medicina
brasileira terá o grau de acerto aumentado? Onde ficará a segurança jurídica?
Que garantia teremos da solidez dos edifícios? Aonde iremos parar?
Pete Du Pont
argumenta com acerto: “Se nossa política é falsificar a medição das
habilidades em lugar de melhorar as aptidões dos menos hábeis, então nos
enganamos a nós mesmos e pomos em risco nossa sociedade”.[3]
Não é lógico adotar
o assistencialismo como critério de seleção, quando se visa à competência, pois
a fuga da realidade geralmente não produz bons resultados. Ou não se visa a
competência? Aviltando a nobreza dos centros de excelência que devem ser as
universidades brasileiras, o anteprojeto quer impor o reprovável figurino
ideológico do nivelamento e da despersonalização.
Diz Dr. Plinio que
“o bem comum visa todos os membros da sociedade e do Estado, como o bem
comum do organismo inclui o de todas as células. E assim como o corpo todo é
solidário para a preservação de qualquer célula, e se move para proteger as
mais necessitadas, o Estado e a sociedade devem ter um empenho efetivo em
proporcionar a cada membro as condições normais de existência e aperfeiçoamento.[4]
Isto não se faz com
cotas raciais e sociais, mas com o bom senso próprio de uma civilização cristã.
[1] Site do MSU ‒
www.msu.org.br ‒ acessado em 8-3-05.
[2] Henri Lefèbvre,
Le marxisme. Presses Universitaires Françaises, 21ª ed., Paris, p. 56.
[3] Colorblindness
Is Golden – Will Californians vote to join the human race? American Civil
Rights Coalition.[4] Plinio Corrêa de Oliveira et al, “Reforma Agrária – Questão de Consciência”, ed. do cinquentenário, p. 185. Arpress, São Paulo, 2010.
Fonte: IPCO, Agosto de 2012.
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