Entrevista
Mathias von Gersdorff
estudou Economia nas Universidades de Heidelberg e Bonn (Alemanha),
graduando-se nesta última em 1989. Trabalhou depois no mundo financeiro
europeu. Suas atividades profissionais não o impediram de militar desde 1990 no
movimento Pro-Life. É colaborador assíduo da campanha SOS LEBEN
(SOS VIDA), uma iniciativa da Deutsche Vereinigung für eine Christliche
Kultur – DVCK (Associação Alemã pró-Civilização Cristã). Dirige a campanha Kinder
in Gefahr (Crianças em Perigo), da DVCK,
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desde sua fundação em
1993. É presidente da Sociedade Alemã de Defesa da Tradição, Família e
Propriedade (TFP). Escreveu diversos livros sobre meios de comunicação
social e direito à vida, entre os quais figuram Satanismus, Horror und
Gewaltverherrlichung in den Medien (Satanismo, terror e violência nos meios
de comunicação social) e Was ist Horror? (O que é Terror?). É também
jornalista e conferencista, colaborando em diversas publicações e pronunciando
palestras sobre temas relacionados com Revolução Cultural. Von Gersdorff
concedeu esta entrevista — exclusiva para Catolicismo — por meio
de nosso colaborador na Alemanha, Sr. Renato William Murta de Vasconcelos.
* * *
Catolicismo
— Como
diretor de Kinder in Gefahr, uma iniciativa destinada a proteger as
crianças contra influências negativas da mídia, o Sr. organizou nos últimos
meses duas campanhas públicas denunciando os perigos da música rock de conteúdo
satânico. O que o levou a isso?
Mathias von Gersdorff — Venho acompanhando há
vários anos a presença de elementos satânicos na cultura popular. Contudo,
minha atenção estava mais voltada para filmes, televisão e livros, e muito
menos para a música. A razão disso é que a literatura sobre o tema satanismo na
música pop empregava exemplos a tal ponto antiquados e quase sem
importância na cultura juvenil, que isso não me atraía de modo especial. Em
todo caso, não me pareceu oportuno organizar campanhas públicas contra peças
musicais dos
Rolling Stones dos anos 60. A
canção muito citada, Sympathy for the Devil, apareceu em 1968. O álbum
“Hotel Califórnia”, da banda Eagles, em 1976, e a canção Stairway to
Heaven, de Led Zeppelin, em 1970.
Para a organização de
campanhas junto à opinião pública — sempre acompanhadas de lançamentos de
livros para aumentar sua credibilidade e seriedade — pareciam-me mais
interessantes os elementos satânicos nos filmes e nos romances de horror.
Na última Feira do
Livro de Frankfurt, em um stand parcialmente escondido, encontrei um
livro intitulado Unheilige Allianzen (Alianças não santas). Depois de
folheá-lo longamente e de conversar com o seu editor, percebi a importância, a
extensão e a radicalidade da música satânica moderna. O satanismo, em muitas
das canções dos Rolling Stones ou dos Eagles, parece infantil em
comparação com o que vem sendo lançado hoje em dia no mercado.
Catolicismo
— O que o
impressionou mais nesse livro e o que ele tem de novo em comparação com os
conjuntos de rock dos anos 60?
Mathias von Gersdorff — O rock satânico
moderno não esconde seu ódio contra o cristianismo. E, mais do que isso, o ódio
ou as manifestações de ódio estão no fulcro do rock moderno. Antigamente
isso não era tão evidente assim. Uma das passagens que mais me impressionaram
são as citações do cantor Andrew Harris — seu nome de artista é Akhenaten — do
grupo “Judas Iscariotes”.Ele considera sua música uma campanha de
propaganda contra o cristianismo, a qual deve terminar numa guerra. “Como
toda guerra, esta guerra começa por meio da propaganda. É exatamente isso que
faço com ‘Judas Iscariotes’; divulgo propaganda contra o falso domínio da
ignorância cristã”.E explica, de modo preciso, como procura influenciar
seus ouvintes: “Com Judas Iscariotes encho os espíritos mortais [portanto os
ouvintes] com visões de ódio e de genocídio e incendeio seus corações
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com a cólera do mal”.Suas próprias visões
ele as descreve na revista Ablaze: “Tive uma visão de milhões de
cadáveres crucificados. E quando estavam pendurados em posição elevada sobre as
estradas como porcos sacrificados, eu me perguntava se o Deus deles ainda os
amava”.
Catolicismo
— Mas o
Sr. não atribui talvez a essa música uma importância demasiadamente grande?
Esse tipo de música não poderia ser considerado como um fenômeno marginal?
Mathias von Gersdorff — No último ano
organizamos uma campnha contra a difusão de um CD de música que acabava de ser
lançado no mercado: o CD Evangelivm Necromantia, do grupo holandês Antropomorphia.
Distribuído pela Sony, esse CD podia ser comprado em todos os grandes e
conhecidos vendedores da Internet — por exemplo, no Amazon. Na descrição
do produto, feita pela própria Sony, pode-se ler: “No que diz
respeito ao texto, tudo gira em torno da necrofilia, do assassinato, da
conjuração de espíritos e do prazer necrolésbico”.O texto da canção
“Carne”, desse CD, descreve com detalhes um sádico assassinato e a posterior
violação do cadáver. O texto é de tal modo sádico que não se pode reproduzi-lo.
Pode-se ver,
portanto, que este CD não é vendido em lojas obscuras e por debaixo do balcão,
mas difundido por empresas gigantescas como a Sony.
Há pouco foi lançado
um disco do grupo sueco AEON — igualmente distribuído pela Sony. Esta
banda de rock especializa-se em músicas particularmente cheias de ódio.
A seu respeito escreveu o portal de rock pesado Metal.de — o mais
importante na Alemanha: “Quando se qualifica o grupo sueco AEON como uma das
bandas mais blasfemas no subterrâneo do metal da morte, isso tem naturalmente
uma razão: como nos três álbuns antecedentes, nos textos do novo álbum
Aeons Blackos cristãos são pregados em fileiras na cruz”.
Nos nomes de alguns
desses grupos aparecem escritos o ódio ao cristianismo e a blasfêmia. Assim, um
CD do grupo Satan’s Wrath (Cólera de Satanás) se chama“Blasfêmia
galopante”.Não poucos grupos portam nomes como “Assassinos de freiras”,não
impedindo que firmas como Amazon vendam suas músicas.
Esses são apenas
alguns exemplos. Eu poderia citar centenas. E ainda não é tudo. A localidade de
Kirriemuir, na Escócia, quer erigir um monumento ao cantor Bon Scott, da banda AC/DC.
Scott entoou canções como Highway to hell (Autoestrada para o inferno)
ou Hell isn´t a bad place to be (O inferno não é um mau lugar para se
estar).
Outro exemplo, que
mostra como este tipo de música vai se tornando cada vez mais aceito pela
sociedade, vem da Polônia. Uma foto imensa de Adam Darski, cantor do grupo Behemont,
de Black-Metal, apareceu na capa da revista polonesa de grande tiragemGala.
O grupo, conhecido por suas músicas blasfemas, apresenta-se com roupas
grotescas e satânicas. Num de seus shows, Darski destruiu no palco exemplares
da Bíblia e chamou a Igreja Católica de “seita assassina”.
O “Tagesspiegel”, um
dos jornais mais importantes da Suíça, publicou uma entrevista com o cantor de rock
satânico Gaahl (seu nome real é Kristian Espedal). Nessa entrevista ele declara
com toda a naturalidade: “Sou a favor de que a Igreja desapareça enquanto
instituição. A meu ver, as igrejas são como estátuas de Adolf Hitler em Israel;
para mim, não há diferença entre uma coisa e outra”.Gaahl fala sem
constrangimento em “Tagesspiegel”sobre suas simpatias por Satanás e demais
demônios: “Posso ainda utilizar Satanás sempre quando quero, e isso eu faço.
Mas os motivos de minha espiritualidade estão hoje em dia mais radicados na
mitologia nórdica”.O roqueiro admira Satanás, por ser aquele “que se revolta.
Eu faço isso também, hoje como outrora”.
Catolicismo
— Qual é
a difusão atual desse tipo de música? O Sr. conhece o montante de vendas?
Mathias von Gersdorff — O montante de vendas
das músicas satânicas não é analisado de modo específico. Os gêneros Death-Metal
e Black-Metal pertencem à espécie Heavy-Metal. Contudo, segundo
informações de imprensa, o Heavy-Metal é a única espécie de música que
assinala um aumento de vendas — tanto em concertos como nos CDs.
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Um dos mais
importantes festivais de música na Alemanha é o Wacken-Open-Air-Festival,
realizado anualmente no mês de agosto. Em novembro de 2012, já tinham sido
vendidos todos os 75.000 ingressos para a programação de 2013. Nesse festival
devem tocar grupos como Candlemass, que em anos anteriores produziram
CDs com títulos como “A ascensão de Lúcifer”ou “Fatalidade da magia
da morte”.Também deverão estar presentes os conjuntos de rock Hate
Squad (Esquadrão do ódio) ou Rage (Raiva). Em virtude do sucesso, novos
festivais estão sendo organizados, um atrás do outro. A esses festivais são
dados nomes tais como “Inferno Noruega”, “Inferno Suíça”, “Festa Extrema”,
“Festa neurótica da morte”, “Sob o sol negro”ou “Festival da Besta”.
Catolicismo
— Esse
panorama é aterrador! Tais mensagens de conteúdo satânico são típicas da música rock, ou
se encontram também em outros campos da música pop?
Mathias von Gersdorff — Essa é uma pergunta
que me agrada, porque muitos pensam que o satanismo é uma coisa praticada por
grupelhos minúsculos em cemitérios afastados, por loucos que leram a Bíblia
satânica de Anton la Vey, e encenam rituais correspondentes.
Ora, isso existe de
fato, porém as mensagens de conteúdo satânico são difundidas especialmente
através de filmes e séries de televisão. A fim de obter uma documentação ampla,
dediquei-me a pesquisar uma grande quantidade de filmes de terror. O resultado
foi assustador: em grande número deles são mostrados rituais satânicos que se
orientam de perto pelas indicações apresentadas por livros de La Vey e de
outros autores satanistas. Porém, não é apenas isso. Em muitos filmes de terror
o satanismo vem quase sempre acompanhado de violência sádica e de perversões
sexuais. Esses três elementos apresentam-se sempre juntos, mesmo nos romances
de opereta aparentemente inofensivos.
Dito de outra forma,
um jovem que veja esses filmes não precisa mais ler literatura satânica para
aprender como se tornar um completo satanista. Nos filmes ele obtém não apenas
o necessário conhecimento, mas também o temperamento, a atitude de espírito, os
elementos emocionais. Quando, ademais, ele ouve a música Death-Metal ou Black-Metal
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e se deleita em
fantasias cheias de violência, ódio e blasfêmia, pode se tornar rapidamente um
satanista. Os filmes e a música podem hoje em dia ser facilmente encontrados na
Internet. Praticamente todos os grupos de rock têm contas no MyVideo ou
noYoutube. Citei acima o conjunto Antropomorphia. Filmou-se um
vídeo sobre a a canção Psychagogia no qual aparece uma mulher com um
vestido negro e curto, portando diversos amuletos e brincos bizarros, por
ocasião de um ritual. Em torno de um crânio humano aberto e cheio de sangue, a
mulher espalha um pó estranho, movimenta os braços cada vez mais freneticamente
e murmura fórmulas. De repente, tira um punhal da bainha e, tomando o crânio,
bebe com deleite o seu conteúdo. Parte deste transborda, deixando-a manchada
pelo líquido vermelho. Isso não é nada comparado com o que ainda de pior se
pode ver, mas que não quero descrever nesta entrevista.
Catolicismo
— O Sr.
afirmou que os conteúdos satânicos nas canções dos Rolling Stones e de
outros grupos de rock de outrora não são nada em comparação com o que
está sendo lançado atualmente no mercado. Foram eles como que os precursores ou
idealizadores dessa corrente?
Mathias von Gersdorff — Pode-se retroceder
ainda muito mais, caso se queira encontrar elementos satânicos na música. No
início do século XX, podemos ver tais conteúdos no jazz e, sobretudo,
nos blues. Mas, para voltar à sua pergunta: Sim, propriamente sim, porém
já havia naquela época grupos ainda mais extremados — por exemplo, o Black
sabbath, cujo disco de mesmo nome apareceu em 1970. Ou o conjunto Coven
com seu disco “Bruxaria”,de 1969. Uma canção deste disco é a “Missa
satânica”,cujo fundo é a musicalização de uma missa negra.
Porém, o salto
quântico da música satânica se deu na Noruega. No início dos anos 90,
constituiu-se nesse país um conjunto em regra, o qual se tornou rapidamente
violento, queimando igrejas e perpetrando diversos assassinatos. Seu crime mais
espantoso vitimou o próprio “guru”do conjunto — Øystein Aarseth, mais conhecido
pelo pseudônimo de Euronymous, guitarrista do influente conjunto de rock
Mayhem e proprietário da loja de discos “Helvete”, uma espécie de templo
dos roqueiros satanistas da Noruega. Ora, Euronymous foi morto por Vikernes,
outro membro do conjunto de rock. Pouco antes de sua morte, Euronymous
encontrara o cadáver do principal membro de seu conjunto, que se autodenominava
Dead (morto) e se suicidara com um tiro no cérebro. Euronymous
teria recolhido os pedaços do crânio e distribuído como relíquias a membros de
outros conjuntos de rock. Ainda segundo os rumores, ele teria juntado os
restos da massa encefálica e comido.
O conjunto de rock
Mayhem e os músicos Dead, Euronymnous eVikernes, bem como
a loja de discos “Helvete”, se tornaram, por assim dizer, os arquétipos da
música Death-Metal (Metal da Morte). Esta se espalhou para outros
países, quase sempre acompanhada de assassinatos e incêndio de igrejas.
A música satânica
atual tem sua origem nesse cenário, cuja influência chega até hoje. Dou apenas
dois exemplos. Um membro do conjunto Frost escreveu o que sentiu ao
entrar na loja de discos “Helvete”: “Na primavera de 1991 visitei pela
primeira vez a atualmente tão famosa loja Helvete em Oslo, e então passou-se algo.
Para mim, ficou imediatamente claro que este era o lugar com o qual eu havia
sempre sonhado. [...] A sensação estranha, escura e maldosa que então me
invadiu, jamais me abandonou”.Este conjunto de rock popularizou
também o costume grotesco de maquiar-se como cadáver. Os roqueiros Death-Metal
chamam-no de “pintura de cadáver”.Querem, portanto, se parecer com
cadáveres.
Com o tempo a maquillagesetornou
cada vez mais extremada. Muitos começaram a se vestir como demônios ou
monstros. E as missas satânicas e congêneres ficaram por sua vez mais
frequentes nas encenações de concertos de rock.
Catolicismo
— Como é
que os jovens chegam ao rock satânico? Tratar-se-ia de neopagãos que não
mais satisfeitos com as experiências usuais procuram as extremas?
Mathias von Gersdorff — Talvez o Sr. fique
surpreso, mas é propriamente o contrário. A entrada se dá pelo rock
satânico — portanto, pelo Black-Metal e coisas do gênero. Depois eles
chegam às formas modernas de paganismo. De fato, isso não é de espantar, porque
o rock satânico é muito simples de ser entendido; tem um mundo
relativamente bem conhecido de imagens marcantes, a partir dos filmes de terror
e de outros produtos da cultura pop. No Black-Metal é preciso ser
mau e cheio de ódio. O mundo emocional é, portanto, bem perceptivel e fornece
rapidamente o que todos os ouvintes do Heavy-Metal procuram: o golpe de
adrenalina. Reproduzida em alto som, essa música desencadeia o impulso
adrenalínico e a pessoa não consegue mais ficar quieta. Emoções e instintos
profundos são assim despertados e, posta de lado a razão, cai-se numa espécie
de estado de transe.
Mas como isso se
torna em determinado momento bastante insípido para alguns, estes procuram
então estilos de música que em sua perspectiva tenham mais sentido. Vistos de
fora eles se parecem como versões fortemente aburguesadas do Death-Metal.
Porém, isso não é forçosamente correto do ponto de vista ideológico. Ademais,
quanto mais se adentra na música pagã, mais se aproxima do contacto com estilos
que são velada ou abertamente nazistas. A passagem para o assim chamado
“extremismo de direita”é, portanto, resvaladiça.
Junto com o ódio ao
cristianismo — em todos esses gêneros de música o cristianismo é o grande
inimigo — surge também uma espécie de endeusamento da força. Pois o que o golpe
de adrenalina transmite é uma espécie de sensação de força instintiva e
irracional, entretanto bastante autêntica para quem a experimenta. Isso é o que
todos querem — e aqui se encontra o ponto de ligação com as antigas religiões
germânicas, que outra coisa não eram senão o culto das forças da natureza.
Sendo o cristianismo
— a partir desta perspectiva — visto como uma religião dos fracos, dos
fracassados, não estamos muito longe de uma concepção nazista de vida.
Kristoffer Rygg, que
toca uma mescla de Black-Metal e de folclore no conjunto de rock
norueguês Ulver, disse em uma entrevista: “Os cristãos promulgam leis
para os fracos e pregam sem valor a humildade, a bondade, a submissão, a culpa
e o carregar do peso do mundo [...] os cristãos são os masoquistas, enquanto
nós, como sadistas, empunhamos o chicote”.
Um exemplo clássico
deste fenômeno é o conjunto de rock norueguês Enslaved
(Escravizados), aliás bem-sucedido comercialmente. Originou-se do conjunto de Black-Metal
denominado Phobia, pertencente como Mayhem — da qual já falamos —
à primeira geração de bandas de rock satânico da Noruega. Com o tempo
elas foram mudando seu estilo e hoje pertencem ao gênero Viking Metal,
uma espécie de Death-Metal misturada com música escandinava, porém com
forte acento pagão. Tocam canções como Ethica Odini. Em sua música há
uma mistura bárbara de adoração ao sol e à lua, de lendas nórdicas, de
chamanismo, de sacrifícios de sangue, de hipnose, etc.
Apenas para citar
mais um exemplo, pode-se encontrar uma forte ligação de paganismo e Death-Metal
no conjunto de rock sueco Unleashed (Desencadeado). O cantor do
conjunto, Johnnz Hedlung, explicou numa entrevista como ele se deixa inspirar: “Minhas
influências vieram propriamente de meus antepassados e do ser da natureza, do
sentir de suas forças — ficar simplesmente sentado aqui e saber que o ancestral
de meu avô esteve aqui com a sua espada... saber que disso vem uma influência
sobre você”.
Os roqueiros do Death-Metal
descrevem frequentemente tais sensações. Vikernes, o assassino de Euronymous,
disse numa entrevista: “De fato eu te aconselho tentar andar sozinho, numa
noite de inverno, por uma floresta norueguesa, e compreenderás o que quero
dizer: ela falará contigo”.
Aliás, Vikernes —
venerado em muitos círculos como um guru, apesar do assassinato que cometeu e
das igrejas que incendiou — assim descreve sua trajetória: “Deu-se por
ondas. Em 1991 eu gostava de ocultismo, em 1992 de satanismo, em 1993 de
mitologias, e assim por diante, em ondas”.Mais tarde ele se tornou pagão e
nacionalista-racista. Para ele o cristianismo é um “implante judaico”;
os cristãos deveriam ser sacudidos de seu estado de transe.
Catolicismo
— O Sr.
acredita que esse tipo de música poderia provocar uma grande perseguição aos
cristãos?
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Mathias von Gersdorff — É importante
reconhecer que essa música é para os ouvintes uma espécie de alimento
espiritual, algo como a oração para os fieis. Ouvindo-a eles fortalecem seus
sentimentos de ódio e seu cristianismo. O que pode acontecer no interior de
pessoas que escutam essa música bestial horas a fio e formam sua vida emocional
com ela? Que fantasias cheias de ódio e de blasfêmias são por ela despertadas?
Seja como for, ela
prepara homens que deixam seus sentimentos se transformarem em atos.
Numa entrevista
perguntaram a Anton Szandor La Vey, fundador da “Igreja de Satanás”,o
que ele achava dessa música, se ela era verdadeiramente satânica. Ele
respondeu: “Imaginem um conjunto de jovens que não estejam sob a influência
de narcóticos, que ouviram a noite inteira Black-Metal e que agora ouvem
um rufar de tambores e um toque de trompete [ele queria dizer com isso uma
música hitlerista]. Vai acontecer como nesta cena de Samson ou de Cabaret,
quando milhares de braços se levantam esticados para o ar. Então, que Deus
ajude os cristãos!”.
Penso que isso não é
exagero. Com esse gênero de música vai sendo preparado um exército de pessoas
que odeiam os cristãos e que mediante um determinado sinal poderiam tornar-se
ativas.
Catolicismo
— O que
se pode fazer contra essa agressão?
Mathias von Gersdorff — Como leigo — portanto,
não como sacerdote — pode-se fazer muita coisa. Na Alemanha, queremos alertar o
grande público para a maldade e agressividade dessa música. Queremos que as
pessoas tomem conhecimento das blasfêmias e do ódio que se difundem através
dela, algo que nenhuma outra religião aceitaria. Basta pensar o que aconteceria
caso se atacasse desse modo o islamismo.
Simultaneamente, por
meio de nossas ações, exigimos das autoridades que apliquem as leis vigentes e
proíbam esta música de ódio.
Enquanto leigos,
podemos também nos empenhar para que a piedade cristã seja fortalecida no povo:
a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, à Santíssima Virgem Maria, a reza do
Rosário etc. Os sacramentos e a oração proporcionam as graças necessárias para
se combater esta agressão, pois se trata de um luta sobretudo espiritual entre
o Bem e o Mal.
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Finalmente, como
leigos podemos ainda causar muito efeito pela nossa presença. Tal música e seus
adeptos constituem a ponta-de-lança da agitação anticristã que em variantes
moderadas presenciamos no nosso dia-a-dia. Como enfrentá-la? Raciocínios e
argumentos não ajudam muito nestas circunstâncias. Tais impulsos irracionais e
excessivos só podem ser contidos se os cristãos se apresentarem sem medo e
cheios de convicção. Uma discussão à base de argumentos pressupõe que o lado
oposto compreenda o pensamento do outro e desenvolva um mínimo de empatia.
Entretanto, com homens que cultivam internamente um tal ódio, não se pode
esperar essa capacidade.
De certo modo,
trava-se uma luta entre dois tipos humanos. Do lado dos cristãos, constitui
problema o fato de ter desaparecido completamente em muitos a prontidão para a
luta. Vivem um cristianismo falseado, que vincula a prática de uma espécie de
tolerância que chega até ao abandono da própria identidade. Apenas com bonomia
e mansidão não se conseguirá ganhar a opinião pública para a causa de Jesus
Cristo, e muito menos contrapor-se aos descarados ataques dos roqueiros
satânicos. Precisamos com urgência de personalidades do calibre de um Pe.
Rupert Mayer, S.J., de Munique (heroico resistente ao nacional-socialismo), de
um Cardeal Mindszenty, de um Beato Aloisio Stepinac, Arcebispo de Zagreb
(herois que resistiram ao comunismo), os quais não se dobraram diante de nenhum
poder temporal ilegítimo.
Catolicismo
—
Obrigado por esta oportuna e esclarecedora entrevista. Os que a lerem terão
muito proveito, pois o problema do rock no Brasil avança nesta mesma
linha. Desejamos-lhe muito êxito em suas próximas campanhas públicas em prol
dos princípios católicos e na defesa da civilização cristã.
Fonte: Catolicismo,
abril de 2013.
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