Cid Alencastro
Uma declaração do Conselho Federal de Medicina (CFM), a ser
enviada ao Senado, propugna pela liberação do aborto nos termos do projeto de
Código Penal em debate naquela Casa legislativa, ou seja, durante a 12ª semana
de gestação. E vai ainda mais longe.
É preciso que os anti-abortistas estejam de sobreaviso e
entrem na luta, pois o direito não socorre os que dormem, mesmo quando eles têm
razão.
Algumas considerações a respeito se impõem. Vamos a elas.
* * *
É sabido que a maioria da população brasileira repudia a
ampliação das causas de aborto permitidas por lei. Várias pesquisas o têm
comprovado, e o contato diário com a população o mostra de sobejo.
Quando o governo Lula, em 2009, num Plano de Direitos Humanos
(PNDH-3) sorrateiramente assinado às vésperas do Natal daquele ano, quis impor
uma liberação praticamente total do aborto, o clamor popular que se levantou
obrigou o Presidente a recolher seu decreto, enfiar a viola no saco e sepultar
no silêncio sua iniciativa.
Naquela ocasião, tiveram papel importante na mobilização
popular o estudo difundido pelo
Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e a publicação na revista
“Catolicismo”, ambos realçando o caráter criminoso do aborto, que atenta contra
o 5º Mandamento da Lei de Deus (Não Matarás).
Na campanha presidencial de 2010, constando que a então
candidata Dilma Rousseff era a favor do aborto, sua eleição para o cargo de
primeira mandatária da Nação ficou seriamente ameaçado. A ponto de que ela teve
de comprometer-se publicamente a não tomar nenhuma iniciativa abortiva, caso
fosse eleita. Mais tarde, as ministras Maria do Rosário, da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência, e Eleonora Menicucci, da Secretaria Especial
de Políticas para as Mulheres, tiveram também que silenciar suas posições a
respeito do aborto, sob pena de perderem as condições de permanecer em seus
cargos.
Bebê de
aproximadamente 12 semanas de vida
|
No final de 2012, nova investida. Uma comissão de juristas,
designados pelo Senado Federal, elaborou um projeto de Código Penal que entre
os numerosos incisos inaceitáveis, incluia a liberação do aborto até a 12ª
semana de gestação, condicionado apenas à opinião de um médico ou psicólogo.
Tal projeto está sendo atualmente examinado no Senado
Federal, e a respeito dele o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira elaborou um parecer
bastante circunstanciado, que tem obtido grande repercussão, sendo inclusive
reproduzido no importante site jurídico JurisWay, além de numerosos outros
sites. Outras personalidades de relevo no mundo jurídico, como o Dr. Gilberto
Callado, Procurador de Justiça em Santa Catarina, também elaboraram estudos de
grande alcance contra o referido projeto de viés abortista.
Em meio a todo esse debate, jovens voluntários do Instituto
Plinio Corrêa de Oliveira têm se empenhado numa campanha de difusão do livro do
Pe. David Francisquini “Catecismo contra o aborto”, que em linguagem simples e
num estilo acessível, desmonta com inteligência e fé os argumentos abortistas.
A receptividade para esse “Catecismo” no público brasileiro tem sido enorme.
Em face dessa aversão da população brasileira, em sua
maioria, ao aborto, as possibilidades deste ser estendido na legislação pátria
pareciam remotas.
Eis senão quando, como prova de que os abortistas não
desistem e que, portanto, é preciso ter uma vigilância ininterrupta contra suas
investidas, surge como raio em céu sereno uma declaração do Conselho Federal de
Medicina (CFM), a ser enviada ao Senado, propugnando pela liberação do aborto
nos termos do projeto de Código Penal, ou seja, durante a 12ª semana de
gestação. Com uma agravante: não exige qualquer aprovação ou opinião de médico
ou psicólogo. Dada a conhecer pela imprensa em 21 de março, tal declaração
serve largamente aos objetivos dos abortistas.
Imediatamente se regozijaram com essa iniciativa as tais
“Católicas pelo direito de decidir”, uma ONG feminista que indevidamente
utiliza o nobre título de “católicas”, para melhor fazer engolir suas posições
anticatólicas.
Para o presidente do CFM, Roberto D’Ávila, “o País precisa
avançar” (O Estado de S. Paulo, 21-3). Para onde? perguntamos nós. Para o
abismo?
Mas o pronunciamento do CFM não tem o apoio da generalidade
dos médicos brasileiros. Mesmo entre os conselheiros não foi aprovado por
unanimidade, pois a terça parte deles se manifestou contra.
A Regional de Minas Gerais votou em bloco contra a liberação
do aborto. Afirmou o presidente do CRM-MG, João Batista Soares: “enquanto
médicos, entendemos que nossa obrigação primeira é com a vida”. Soares teme
ainda que o apoio ao anteprojeto possa passar o recado que o médico está
liberado para praticar o aborto (Folha de S. Paulo, 21-3).
Os abortistas, de modo geral, temem muito os argumentos de
índole religiosa, pois conhecem a eficácia dos mesmos junto ao público
brasileiro. Por isso se esforçam extraordinariamente para que o tema aborto não
seja tratado sob o ângulo da religião, mas sim do ponto de vista da saúde da
mulher. Isso é propriamente uma falácia por duas razões principais.
Primeiramente porque a Religião Católica não tem uma pregação
contrária à saúde da mulher e não é verdade que o aborto seja propício ao
bem-estar físico da gestante. Pelo contrário, ele é uma fonte de remorsos e
sensação de má consciência que facilmente produz doenças psíquicas de todo
gênero.
Ademais, se a posição anti-abortista é apenas de quem tem
religião, isso significaria que quem não é religioso pode matar à vontade? Quem
poderá defender tal insânia?
Em má hora o CFM entrou na liça para defender uma causa tão
inglória. Entretanto, o tiro pode sair pela culatra, pois muita gente que
estava desmobilizada por achar que o aborto não tinha condições de ser aprovado,
levou um susto salutar com essa declaração, e com isso acordou para luta, que
mostra ser muito necessária. Os abortistas não dormem, e até o último momento
podem excogitar uma cilada para aprovar a matança de inocentes. Não durmamos
nós.
Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil,
nos ajude e fortaleça.
Fonte: IPCO, março 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário